Narrar é Resistir: Os Processos de Transculturação Narrativa em “Meu Tio o Iauaretê”, de Guimarães Rosa

Autores

  • João Pedro Bellas Universidade Federal Fluminense
Agências de fomento
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001

Palavras-chave:

Guimarães Rosa, Transculturação, Ángel Rama

Resumo

Em suas manifestações iniciais, a literatura na América Latina desempenhou um papel determinante no processo colonizador, funcionando muitas vezes como expressão dos padrões culturais do colonizador. Conforme desenvolveu-se, entretanto, a produção literária latino-americana possibilitou uma resistência às tendências colonizadoras, promovendo o resgate e revalorização de elementos característicos das tradições culturais nativas do continente americano. Esse papel de resistência foi amplamente estudado pelo crítico uruguaio Ángel Rama, sobretudo em seus escritos sobre a transculturação narrativa, conceito formulado a partir das contribuições do antropólogo cubano Fernando Ortiz. Rama mostrou-se particularmente interessado pelo modo como alguns escritores latino-americanos rearticularam no âmbito ficcional os aspectos próprios das tradições populares das regiões rurais da América Latina, criando a partir da fala dos habitantes do interior uma linguagem literária mais apropriada para expressar a visão de mundo engendrada por esses elementos culturais. Um dos autores estudados por Rama é Guimarães Rosa. De fato, os pontos centrais da proposta poética do escritor mineiro vão ao encontro do conceito de transculturação desenvolvido pelo crítico uruguaio. Nesse sentido, a proposta deste artigo é analisar o conto “Meu tio o iauaretê” (1961) para explicitar os procedimentos de transculturação narrativa empregados por Guimarães Rosa. O objetivo é explorar a partir da obra rosiana o papel de resistência cultural desempenhado pela literatura latino-americana, mostrando como o conto contribui para uma reafirmação e valorização de elementos próprios da cultura indígena frente a problemática da colonização.

Biografia do Autor

João Pedro Bellas, Universidade Federal Fluminense

João Pedro Bellas é doutorando em Literatura Comparada pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Possui mestrado em Literatura Brasileira e Teoria da Literatura e graduação em Filosofia pela mesma universidade. Integra o grupo de pesquisa Estudos do Gótico (CNPq), coordenado pelos profs. drs. Júlio França e Luciana Colucci. Sua produção recente pode ser encontrada no site https://uff.academia.edu/Jo%C3%A3oPedroBellas 

Contato: joaolbellas@gmail.com

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Publicado

11-04-2019

Como Citar

BELLAS, J. P. Narrar é Resistir: Os Processos de Transculturação Narrativa em “Meu Tio o Iauaretê”, de Guimarães Rosa. Línguas & Letras, [S. l.], v. 19, n. 45, p. http://dx.doi.org/10.5935/1981–4755.20180035, 2019. Disponível em: https://saber.unioeste.br/index.php/linguaseletras/article/view/20263. Acesso em: 19 abr. 2024.

Edição

Seção

Dossiê: CONTINGÊNCIAS SOCIAIS E CULTURA POPULAR NA OBRA DE JOÃO GUIMARÃES ROSA