Letramento é Uma Questão Que Interessa Somente À Escola?: A Propósito do Enunciado Concreto em Situação de Abertura de Conta Bancária

Autores

Agências de fomento
funcap

Palavras-chave:

Letramento, Enunciado concreto, Instituições sociais.

Resumo

Considerando que, dentro das lógicas de relações institucionais de poder, as práticas de letramento são elementos importantes para o empoderamento de sujeitos sociais, pretendemos refletir, neste texto, sobre o papel de agências de letramento frente aos diversos descasos sociais e situações de abuso de poder, sobretudo aquelas causadas por instituições, como as financeiras, com forte presença na vida cotidiana das pessoas. Como fundamento teórico para levar avante a pesquisa, apoiamo-nos em Kleiman (2006), para discutir o conceito de agentes de letramento; em Vóvio e Souza (2005), para salientar o caráter histórico da relação entre identidade social e práticas de leitura e escrita; em Street (2012; 2014), para considerar o fato de que instituições específicas incorporam práticas letradas específicas, conforme suas convenções consagradas e o fato de que a forma como se percebe essas práticas determina as formas de ação social; e, por fim, em Bakhtin (2015), para estudar o enunciado concreto na sua dimensão dialógica. De posse deste arsenal teórico, analisaremos as particularidades do letramento em contratos de abertura de conta em banco, através das especificidades dos enunciados concretos a que os sujeitos envolvidos nessa situação são submetidos. Da análise, destacamos que: 1) a situação de abertura de conta concorre para corroborar o dito “fracasso escolar” e o estabelecimento de formas abusivas de poder por endossar representações de leitura e escrita, marcadas pela insegurança, descrença e temor quanto ao texto do contrato, representações as quais constituirão, por meio das interações com esses sujeitos, as experiências de letramento que o aluno trará para escola; e 2) que, nesse sentido, para além da escola, outras instituições, como as bancárias, também influenciam no desenvolvimento da prática letrada dos sujeitos sociais.

Biografia do Autor

Marcos Roberto dos Santos Amaral, UECE

Possui graduação em Letras Português e Literaturas pela Universidade Estadual do Ceará - UECE (2009) e mestrado em Linguística Aplicada pelo Programa de Pós-graduação em Linguística Aplicada da UECE - PosLA-UECE (2017). Doutorando do mesmo programa. Membro do Grupo de Estudos Bakhtinianos do Ceará (GEBACE) e do Grupo de Estudos Deleuze & Guattari (GEDEG). Bolsista da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FUNCAP). Professor (licenciado para estudos) da rede estadual de ensino do Ceará - SEDUC-CE. Orcid: https://orcid.org/0000-0001-8130-4580

João Batista Costa Gonçalves, UECE

Possui graduação em Letras pela Universidade Federal do Ceará (1994), mestrado em Linguística pela Universidade Federal do Ceará (1998), doutorado em Linguística pela Universidade Federal do Ceará (2006) e pós-doutorado em Linguística pela Universidade Federal do Ceará (2016). Atualmente é adjunto IX da Universidade Estadual do Ceará, coordenador do curso de Especialização em Ensino de Língua Portuguesa da Universidade Estadual do Ceará e vice-coordenador do Programa de Pós-Graduação em Linguística Aplicada da Universidade Estadual do Ceará (PosLA/UECE). Tem experiência na área de Letras, com ênfase em Língua Portuguesa, e desenvolve pesquisas centradas nos estudos bakhtinianos do discurso.

Referências

BAKHTIN, M. Problemas da Poética de Dostoiévski. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2015.

KLEIMAN, A. Processos identitários na formação profissional: o professor como agente de letramento. In: CORRÊA, M. L. G. e BOCH, F. (orgs.). Ensino de língua: representação e letramento. Campinas: Mercado de Letras, 2006.

MACHADO, A. Abrir conta corrente pode se tornar um problema para o consumidor in: <https://extra.globo.com/noticias/economia/abrir-conta-corrente-pode-se-tornar-um-problema-para-consumidor-4335249.html>, acesso 16/05/2018.

MARCHEZAN, R. C. Diálogo. In: BRAIT, B. Bakhtin: outros conceitos-chave. São Paulo: Contexto, 2014, p. 115-131.

SANTOS, B. S. Na oficina do sociólogo artesão. São Paulo. Cortez, 2018.

SILVA, A. P. P. F. Bakhtin. In: OLIVEIRA, L. A. (org.). Estudos do discurso: perspectivas teóricas. São Paulo: Parábola, 2013, p. 45-69.

STREET, B. A escolarização do letramento. In: MAGALHÃES, I. (Org.). Discursos e práticas de letramento. Campinas-SP: Mercado das Letras, 2012a, pp. 69-92.

STREET, B. V. Letramentos sociais: abordagens críticas do letramento no desenvolvimento, na etnografia e na educação. Trad.Marcos Bagno. São Paulo: Parábola, 2014.

VÓVIO, C. L. e SOUZA, A. L. S. (2005). “Desafios metodológicos em pesquisas sobre letramento”, in: KLEIMAN, A. B. e MATENCIO, M. L. M. (orgs.) Letramento e formação do professor: práticas discursivas, representações e construção do saber. Campinas: Mercado de Letras, pp. 41-64.

Downloads

Publicado

19-06-2020

Como Citar

DOS SANTOS AMARAL, M. R.; COSTA GONÇALVES, J. B. Letramento é Uma Questão Que Interessa Somente À Escola?: A Propósito do Enunciado Concreto em Situação de Abertura de Conta Bancária. Línguas & Letras, [S. l.], v. 21, n. 49, p. 4755.20200006, 2020. Disponível em: https://saber.unioeste.br/index.php/linguaseletras/article/view/24338. Acesso em: 18 abr. 2024.

Edição

Seção

DOSSIÊ: ESTUDOS DIALÓGICOS E INCURSÕES NA PRÁTICA DOCENTE