Fontes clínicas, história da loucura e história da psiquiatria: uma revisão historiográfica
DOI:
https://doi.org/10.36449/rth.v25i1.21029Palavras-chave:
História da psiquiatria;Fontes históricas;Historiografia;Loucura;Controle socialResumo
Registros clínico-psiquiátricos vêm sendo explorados como fontes históricas por diversos historiadores e cientistas sociais interessados em compreender as transformações dos saberes e práticas médico-psicológicas. Da mesma maneira, tais testemunhos históricos vêm revelando imensa potencialidade heurística na reconstrução das variadas e complexas experiências da loucura, nos mais diversos espaços e tempos. Este artigo traça um balanço historiográfico com atenção voltada à literatura da história da psiquiatria e da loucura em âmbito internacional e nacional que fez uso deste tipo documental. Demarcamos, como conclusão, o quanto a mobilização de tais fontes contribui para a relativização de interpretações de cunho funcionalista da história dos saberes médico-psicológicos e da loucura.
Referências
ARCHIBAL, M. Case records. In: SCULL, A (org.). Cultural Sociology of Mental Illnes. An A-to-Z guides (vol.1). San Diego: Sage Publications, 2013, p. 102-104.
ARTIÉRES, P. What criminals think about criminology. French Criminals and Criminological Knowledge at the end of Nineteenth Century. In: BECKER, P.; WETZELL, R. Criminals and their scientists: the history of criminology in international perspective. Washington D.C: Cambridge University Press, 2006.
BENJAMIN, W. Magia e técnica, arte e política. São Paulo: Brasiliense, 1994.
BEVERIDGE, A. Madness in Victorin Edinburgh: a study of patients admitted to Royal Edinburgh Asylum under Thomas Clouston, 1873-1908. History of Psychiatry, 6, p.21-54 y 133-157, 1995.
BRASLOW, J. Mental Ills and Bodily Cures. Psychiatric Treatment in the Firt Half of Twentieth Century. Berkeley/Los Angeles/ London: University of California Press, 1997.
CARRARA, S. Crime e loucura: o aparecimento do Manicômio Judiciário na passagem do século. Rio de Janeiro: Ed UERJ; São Paulo: EdUSP, 1998.
CASSÍLIA, J. Doença mental e Estado Novo: a loucura de um tempo. Dissertação (Mestrado em História das Ciências e da Saúde) – Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz, Rio de Janeiro, 2011.
COLEBORNE, C. White men and weak masculinity: men in public asylums in Victoria, Australia, and New Zealand, 1860s-1900s. History of Psychiatry, V. 25, n.4, p.468-476, 2014. p. 469.
CUNHA, M. O espelho do mundo. Juquery a história de um asilo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986.
DIAS, A. Dramas de sangue e loucura: psiquiatria e crime no Rio de Janeiro (1901-1921). Rio de Janeiro: Novas Edições Acadêmicas, 2017.
DÖRRIES, A; BEDDIES, T. The Witternauer Heilstätten in Berlin: a case record study of psychiatric patients in Germany, 1919-1960. In. PORTER, R.; WHRIGHT, D. The confinement of the insane: Cambridge: Cambridge University Press, 2003, p.149-172.
DUMOLIN, L. L’ expertise judiciaires dans la construction du jugement: de la ressource à la contrainte. Droit et Socièté, vol. 44-45, p.199-223, 2000. EDLER, F. A húbris bioética: rumo a uma polícia epistemológica. Revista Brasileira de Sociologia, v.3, n.5, p.97-113, 2015.
EDLER, F. A Medicina no Brasil Imperial: clima, parasitas e patologia tropical. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2011.
ENGEL, M. Os Delírios da Razão: médicos, loucos e hospícios (Rio de Janeiro, 1830-1930). Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2001.
ENGEL, M. Psiquiatria e feminilidade. In: PRIORE, M (org). História da Mulheres no Brasil. 3ª ed. São Paulo: Contexto, 2000.
ENGEL, M. Sexualidade interditadas: loucura e gênero masculino. História, Ciências, Saúde - Manguinhos, v. 15, 2008.
ESTEVES, M. Meninas perdidas: os populares e o cotidiano do amor no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 1989.
FACCHINETTI et al. As insanas do Hospício Nacional de Alienados. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v.15, supl., p.231-242, jun. 2008.
FACCHINETTI, F; CUPELLO, P. O processo diagnóstico das psicopatas do Hospital Nacional de Alienados: entre a fisiologia e os maus costumes (1903- 1930). Revista Estudos em Psicologia. Rio de Janeiro, v.11, n.2, 2012, p.697- 718.
FERLA, L. Feios, sujos e malvados sob medida: do crime ao trabalho, a utopia médica do biodeterminismo em São Paulo (1920-1945). São Paulo: Alameda, 2009.
GOLDBERG, A. The Eberbach Asylum and the Practice (s) of Nymphomania in Germany, 1815-1849. Journal Women History. V.9, n.4, p.35-52, 1998.
GOLDSTEIN, J. Console and Classify: The French Psychiatric Profession in the Nineteenth Century. Cambridge: Cambridge University Press, 1987.
GOMES, A. A Invenção do Trabalhismo. São Paulo: Vértice; Rio de Janeiro: IUPERJ, 1998.
GUILHAUMOU, J. La historia linguística de los conceptos: el problema de la intencionalidade. Revista Ayer, n.53 (1), p.47-61, 2004.
HACKING, I. Between Michel Foucalt and Enving Goffman: between discours in the abstract and face-to-face interaction. Economy and Society, v. 33 (3), p. 277–302, 2004.
HERZLICH, C; ADAM, P. Sociologia da doença e da medicina. Bauru – São Paulo: EDUSC, 2001.
HUERTAS, R Historia Cultural de la Psiquiatría. Madri: Los libros de la Catarata, 2012.
HUERTAS, R. Another history for another psychiatry. The patient’s view. Culture & History Digital Journal, v. 2, n. 1, p. 1–11, 2013.
JABERT, A. De médicos e médiuns: medicina, espiritismo e loucura no Brasil da primeira metade do século XX. Tese (Doutorado em História das Ciências e da Saúde) – Fundação Oswaldo Cruz, Casa de Oswaldo Cruz, 2008.
KOSELLECK, R. Futuro Passado: contribuição à semântica dos tempos históricos. Rio de Janeiro: Contraponto; Ed. PUC-Rio, 2006.
LANTERI-LAURA, G. La chronicité dans la psychiatrie moderne française. Note d’histoire théorique et sociale. Annales. Économies, Sociétés, Civilisations, 27º année, n.3, p.548-568, 1972.
LIMA, A. Psiquiatria e espiritismo no atendimento à doença mental: a história do Hospital Espírita de Psiquiatria Bom Retiro (Curitiba –1930-1950). Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Psicologia, 2011.
MARLAND, H. Under the shadow of maternity: birth, death and puerperal insanity in Victorian Britain. History of Psychiatry, Vol 23, n.1, 2012.
MOLINA, A. Un mesías, ladrón y paranoico en el Manicômio La Castaneda. A propósito de la importancia historiográfica de los locos. Estudios de Historia Moderna y Contemporánea de México, n. 37, p. 71-96, 2009.
MUÑOZ, P. Degeneração atípica: uma incursão ao arquivo de Elza. Dissertação (Mestrado em História das Ciências e da Saúde) – Fundação Oswaldo Cruz. Casa de Oswaldo Cruz, 2010.
NOVELLA, E. De la historia de la psiquiatría a la historia de la subjetividad. Asclépio. Vol. LXI, n. 2, julio-diciembre, p. 261-280, 2009. PERINI, J. Hospital Adauto Botelho: controle social e mulheres. Vitória –ES. Dissertação (Mestrado em História). Universidade Federal do Espírito Santo. Espírito Santo, 2013.
POCOCK, J. Linguagens do Ideário Político. São Paulo: Edusp, 2003.
PORTER, R. The Patient’s View: Doing Medical History From Below. Theory and Society, 14, 2, 1985, 175–98, PRESTWICH, P. Female Alcoholism in Paris, 1870-1920: The Response of Psychiatrists and of Families. History of Psychiatry, v.14, n.3, p.321-336, 2003b.
PORTER, R.; MICALE, M. Introduction: Reflections on Psychiatry and its Histories. In. PORTER, R. and MICALE, M. Discovering the history of Psychiatry. New York/ Oxford. Oxford University Press, p.3-23, 1994. PORTER, R. A social history of madness. A world throught the eyes of the Insane. New York: Weidenfeld & Nicolson, 1987.
RAGO, M. Foucault: um pensamento desconcertante – o efeito-Foucault na historiografia brasileira. Tempo Social (Rev.Sociol.USP). São Paulo, 7 (1-2), pp.67-82, 1995.
RIBEIRO, D. Ciência, caridade e redes de sociabilidade: o Hospício de Pedro II em outras perspectivas. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, v. 23, p. 1153-1167, 2016.
RIBEIRO, D. Tramas da loucura na Corte Imperial: ciência, caridade e redes de sociabilidade no Hospício de Pedro II (1883-1889). Curitiba: Editora Prismas, 2015.
RIVERA-GARZA, C. La Castañeda. Narrativas dolientes desde el Manicomio General. México, 1910-1930. México D.F.: Maxi TusQuets, 2011.
ROSEN, G. Madness in Society: Chapters in the Historical Sociology of Mental Illness. Chicago: University of Chicago Press, 1968.
SACRISTÁN, C. Por el bien de la economía nacional. Trabajo terapéutico y asistencia pública en el Manicomio de La Castañeda de la ciudad de México, 1929-1932. História, Ciências, Saúde-Manguinhos, v. 12, n. 3, p. 675–92, set. 2005.
SAHLINS, M. História e Cultura: apologia a Tucídides. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2006.
SALLA, F; BORGES, V. Prontuários de instituições de confinamento. In. RODRIGUES, R. Possibilidades de pesquisa em História. São Paulo: Contexto, 2017, p.115-136.
SCULL, A. Museums of Madness: the social organization of insanity in nineteenth-century England. London: Allen Lane, 1979.
SCULL, A. The insanity of place/the place of insanity: essays on the history of psychiatry. New York, Routledge, 2006.
SHOWALTER, E. The Female Malady: Women, Madness and English Culture, 1830-1980. London: Virago, 1987.
TOMES, N. Feminist Histories of Psychiatry. In: PORTER, R. and MICAELE, M. S. Discovering the history of Psychiatry. New York/ Oxford: Oxford University Press, 1994, 231-262.
VACARO, J. A Construção do Moderno e da Loucura: Mulheres no Sanatório Pinel de Pirituba (1929-1944). Dissertação (Mestrado em História Social). Universidade de São Paulo, Departamento de História. São Paulo, 2011.
WADI, Y.M. Entre muros: os loucos contam o hospício. Topoi (Rio de Janeiro), v. 12, p. 250-269, 2011.
WADI, Y.M. Palácio para guardar doidos: uma história das lutas pela construção do hospital de alienados e da psiquiatria no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Ed. UFRGS, 2002
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2021 Tempos Históricos

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International License.
Aviso de Direito Autoral Creative Commons
Política para Periódicos de Acesso Livre
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
1. Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.2. Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
3. Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre).
Licença Creative Commons
Esta obra está licenciada com uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual 4.0 Internacional, o que permite compartilhar, copiar, distribuir, exibir, reproduzir, a totalidade ou partes desde que não tenha objetivo comercial e sejam citados os autores e a fonte.