Entre o Futuro Passado: os prognósticos sobre o negro no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (1839-1869)

Autores

DOI:

https://doi.org/10.36449/rth.v27i1.30818

Palavras-chave:

História da historiografia; IHGB; Negro.

Resumo

O intuito neste artigo é analisar um campo discursivo sobre o negro que procura, por meio de prognósticos, ou seja, textos que articulam passado e presente para projetar ações para o futuro, convencer os nacionais que além de a presença negra ser um “entrave” para o desenvolvimento nacional, também precisa ser “compensada” com a importação de imigrantes europeus brancos. Para tanto, observaremos três prognósticos publicados na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro no século XIX, textos que tem uma temporalidade própria das delimitações da historiografia moderna, sempre em diálogo com o antigo regime de historicidade e que visam fabricar uma nacionalidade, persuadir nacionais e estrangeiros de que mais da metade da população do país foi ausente de sua formação para defender o branqueamento e um futuro passado cada vez mais branco.

Referências

AGAMBEN, Giorgio. O que é contemporâneo e outros ensaios. Trad. Vinícius Nicastro Honesko. Chapecó: Argos, 2009.

ALONSO, Ângela. Ideias em movimento. São Paulo: Paz e Terra, 2002.

ALONSO, Ângela. Flores, votos e balas. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

ANDRÉ, Maria da Consolação. O ser negro. Tese (Doutorado em Psicologia) - Instituto de Psicologia, Universidade de Brasília, Brasília, 2007.

ARAÚJO, Valdei Lopes de. A experiência do tempo. São Paulo: Aderaldo & Rothschild, 2008.

BARBOSA, Januário da Cunha. Escravos e a civilização dos índios. Revista do IHGB, Tomo I, p. 123-129, 1839.

BARBOSA, Januário da Cunha. Qual seria o melhor sistema de colonizar os índios entranhados em nossos sertões; se conviria seguir o sistema dos Jesuítas, fundado principalmente na propagação do Cristianismo, ou se outro do qual se esperem melhores resultados do que os atuais. Revista do IHGB, Tomo II, p. 16, 1840.

BEIGUELMAN, Paula. A crise do escravismo e a grande imigração. Brasília: Brasiliense, 1981.

BENJAMIN, Walter. Magia e Técnica, arte e política. Trad. Sérgio Paulo Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 2012.

BETHELL, Leslie. A Abolição do tráfico de escravos para o Brasil. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1976.

BRITO, Eleonora Zicari Costa de. O Haiti era lá, aqui e acolá. Os discursos sobre a escravidão no século XIX. In: ALMEIDA, Jaime de; CABRERA, Olga. (Org.) Caribe: Sintonias e Dissonâncias. Goiânia: Centro de Estudos do Cabine no Brasil, 2004.

CEZAR, Temístocles. A retórica da nacionalidade de Varnhagen e o mundo antigo: o caso da origem dos tupis. In: GUIMARÃES, Manoel Luiz Salgado (Org.). Estudos sobre a escrita da história. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2006, p. 29-41.

CHALHOUB, Sidney. Visões da liberdade. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.

DOMINGUES, Petrônio. Uma História Não Contada. São Paulo: Editora SENAC, 2003.

DORNELES, Mauricio da Silva, PEREIRA, Nilton Mullet. Escravo, não. Escravizado! Disponível em https://sul21.com.br/opiniao/2020/03/escravonao-escravizado-por-mauricio-da-silva-dorneles-e-nilton-mullet-pereira/ , acesso em 21.06.2023.

FANON, Frantz. Pele negra, máscaras brancas. Salvador: EDUFBA, 2008.

FERES JÚNIOR, João (Org.) Léxico da história dos conceitos políticos do Brasil. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2009.

FLORENTINO, Manolo; VILLA, Valencia. Abolicionismo inglês e tráfico de crianças escravizadas para o Brasil, 1810-1850. Revista História (São Paulo). v. 35, e78, 2016.

FONSECA, Pedro Paulino. Dos feitos que se deram durante os primeiros anos de guerra com os negros quilombola dos Palmares, seu destroço e paz aceita em junho de 1678. Revista do IHGB, Tomo XXXIX, p. 293-322, 1876.

FOUCAULT, Michel. Em Defesa da Sociedade. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

FOUCAULT, Michel. O Corpo Utópico, as Heterotopias. São Paulo, N-1 Edições, 2021.

FOUCAULT, Michel. O nascimento da biopolítica. São Paulo: Martins Fontes, 2008a.

GUIMARÃES, Lúcia Maria Paschoal. Da escola palatina ao silogeu. Rio de Janeiro: Museu da República, 2007.

GUIMARÃES, Lúcia Maria Paschoal. Debaixo da imediata proteção imperial. São Paulo: Annablume, 2011.

GUIMARÃES, Manoel Luiz Salgado. A cultura histórica oitocentista: a constituição de uma memória disciplinar. In: PESAVENTO, Sandra Jatahy (org.). História Cultural. Porto Alegre: Editora UFRGS, 2003.

GUIMARÃES, Manoel Luiz Salgado. Escrever a história, domesticar o passado. In: LOPES, Antonio Herculano; VELLOSO, Monica Pimenta; PESAVENTO, Sandra Jatahy. História e Linguagens. Rio de Janeiro: 7 letras, 2006, p. 45-57.

GUIMARÃES, Manoel Luiz Salgado. História e natureza em von Martius: esquadrinhando o Brasil para construir a nação. História, Ciências, Saúde, Manguinhos, vol. VII (2), 2000.

GUIMARÃES, Manoel Luiz Salgado. Historiografia e nação no Brasil. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2011.

GUIMARÃES, Manoel Luiz Salgado. Nação e civilização nos trópicos: o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e o projeto de uma História nacional. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, n.1, 1988.

GUMBRECHT, Hans Ulrich. Produção de presença. Rio de Janeiro: Editora Contraponto: Ed. PUC-RIO, 2010.

GUMBRECHT, Hans Ulrich; RODRIGUES, Thamara de Oliveira. Reinhart Koselleck. São Paulo: Editora Unesp, 2021.

HARTOG, François. Regimes de historicidade. Belo Horizonte: Editora Autêntica, 2013.

IBGE, Estatísticas históricas do Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, 1990. IHGB. Ata da 180ª Sessão em 14 de outubro de 1847. Revista do IHGB. T. IX, p. 562-563, 1847. IHGB. Extrato das atas das sessões. Revista do IHGB. Tomo I, 1839, p. 47-48.

KILOMBA, Grada. Memórias da Plantação. Trad. Jess Oliveira. Rio de Janeiro: Cobogó, 2019.

KODAMA, Kaori. Os índios no Império do Brasil. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ; São Paulo: Edusp, 2009.

KOSELLECK, Reinhart. Futuro Passado. Contraponto: Ed. PUC-Rio, 2006.

MALEVAL, Isadora Tavares. O Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro como receptáculo do presente (1838-1850). Revista Topoi, Rio de Janeiro, n. 20, p. 627-650, Set-Dez 2019.

MAMIGONIAN, Beatriz Gallotti. Africanos livres. São Paulo: Companhia das Letras, 2017.

MARQUES, Cesar Augusto. Memória histórica da administração provincial do Maranhão pelo bacharel Franklin Américo de Menezes Dória. Revista do IHGB, T. XLI, Parte Segunda, p. 05-130, 1878.

MARTIUS, Karl Friederich Phillipe von. Como se deve escrever a história do Brasil. Revista do IHGB, 1865, Tomo VI, p. 389-411.

MATTOS, Hebe. Da guerra preta às hierarquias de cor no Atlântico português. In: XXIV Simpósio Nacional de História, Anais da Associação Nacional de História – ANPUH, 2007.

MATTOS, Ilmar Rohloff de. Tempo Saquarema: A formação do Estado Imperial. São Paulo: Hucitec, 2011.

MBEMBE, Achille. Necropolítica. São Paulo: n-1 edições, 2018.

MONEDERO, Juan Carlos. Lenguaje, Ideología y Poder – La palabra como arma de persuasión ideológica: cultura y legislación. 2ª. ed. Bella Vista: Ediciones Castilla, 2016.

MOREL, Marco. O Haiti não foi aqui. Revista Nossa História, ano 1, n. 11, 2014.

MOTT, Luiz. A revolução do Haiti e o Brasil. História: Questões e Debates, 3 (4), 1982, p. 55-63.

NASCIMENTO, Wanderson Flor do. Temporalidade, memória e ancestralidade: enredamentos africanos entre infância e formação. In: RODRIGUES, Allan de Carvalho; BERLE, Simone; KOHAN, Walter Omar (Org.). Filosofia e educação em errância. Rio de Janeiro: NEFI, 2018.

NASCIMENTO, Washington Santos. “São Domingos, o grande São Domingos”: repercussões e representações da Revolução Haitiana no Brasil escravista (1791-1840). Dimensões, Vol. 21, 2008.

NAXARA, Márcia Regina Capelari. Cientificismo e sensibilidade romântica. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2004.

NAXARA, Márcia Regina Capelari. Estrangeiro em sua própria terra. São Paulo: Editora Annablume, 1998.

NOGUEIRA, Oracy. Tanto preto quanto branco. São Paulo: T.A. Queiroz, 1985.

OLIVEIRA, Antônio Rodrigues Veloso de. Sobre o melhoramento da província de São Paulo aplicável em grande parte às províncias do Brasil, Revista do IHGB, T. XXXI, Parte Primeira, p. 05-103, 1868.

OLIVEIRA, Antônio Rodrigues Veloso de. Sobre o melhoramento da província de São Paulo aplicável em grande parte às províncias do Brasil. Rio de Janeiro: Tipografia Nacional, 1822.

OLIVEIRA, Maria Lêda. A primeira relação do último assalto a Palmares. Afro-Ásia, n. 33, p. 251-324, 2005.

OLIVEIRA, Roberto Cardoso de. Um conceito antropológico de Identidade. Série Antropológica, n. 06, Brasília, UnB, p. 6-8, 1974.

PARRON, Tâmis Peixoto. A Política da Escravidão no Império do Brasil, 1826-1865. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. 2011.

PEREIRA, Amilcar Araújo (Org.). Narrativas de (re)existência. Campinas: Editora da Unicamp, 2021.

PRANDI, Reginaldo. Mitologia dos Orixás. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.

REBELLO, Henrique Jorge. Memória e considerações sobre a população do Brasil. Revista do IHGB, T. XXX, Parte Primeira, p. 05-43, 1867.

REIS, João José. Rebelião Escrava no Brasil: A história do levante dos Malês em 1835. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

RICHARD, Graham. Nos tumbeiros mais uma vez? O comércio interprovincial de escravos no Brasil. Afro-Ásia, n. 27, p. 60-130, 2002.

SCHWARCZ, Lilia Moritz. Do preto, do branco e do amarelo: sobre o mito nacional de um Brasil (bem) mestiço. Cienc. Cult, vol. 64, n.1, 2012.

SEYFERTH, Giralda. Colonização, imigração e a questão racial no Brasil. Revista USP, São Paulo, n. 53, p. 117-149, 2002.

TURIN, Rodrigo. Tessituras do Tempo. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2013.

TURNER, Victor. Floresta de símbolos. Niterói: Editora da UFF, 2005.

Downloads

Publicado

30-06-2023

Como Citar

MANHANI, L. R. Entre o Futuro Passado: os prognósticos sobre o negro no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (1839-1869). Tempos Históricos, [S. l.], v. 27, n. 1, p. 237–268, 2023. DOI: 10.36449/rth.v27i1.30818. Disponível em: https://saber.unioeste.br/index.php/temposhistoricos/article/view/30818. Acesso em: 2 maio. 2024.

Edição

Seção

Artigos