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Travessias, Cascavel, v. 16, n. 2, p. 104-117, maio/ago. 2022.

DOI: https://dx.doi.org/10.48075/rt.v16i2.28941

 

VIDA E ARTE DE ANA DAS CARRANCAS: UMA ANÁLISE SOB O OLHAR DA LOGOTERAPIA

 

Sonha Maria Coelho de Aquino sonha.mca@gmail.com

Escola de Saúde Pública do Ceará, ESP/CE, Fortaleza, Ceará, Brasil;

https://orcid.org/0000-0002-2166-9454

 

Erika Hofling Epiphanio erikapsicoesporte@yahoo.com.br

Universidade Federal do Vale do São Francisco, UNIVASF, Petrolina, Pernambuco, Brasil;

https://orcid.org/0000-0002-3412-2220

 

 

RESUMO: Frankl (2021) expõe que o homem só se encontra em sua completude quando absorvido por uma tarefa na qual acaba se esquecendo de si mesmo em prol de um objetivo, uma meta, uma realização e/ou um amor dedicado à obra. Partindo-se dessa perspectiva e tendo como suporte teórico-metodológico a Logoterapia, o presente trabalho tem por objetivo realizar uma reflexão sobre a vida e a obra da artesã Ana das Carrancas, relacionando a sua história com alguns dos princípios importantes dessa teoria. Nos achados, destaca-se os valores vivenciais, criativos e atitudinais, bem como a capacidade valorativa e resiliente da artesã. Sua história de vida e sua obra evidenciam seu movimento em busca do sentido da vida e da superação humana.

 

PALAVRAS-CHAVE: Logoterapia; Ana das Carrancas; sentido de vida; arte popular.

 

 

1 INTRODUÇÃO

O presente artigo propõe-se realizar uma reflexão existencial sobre a vida e a obra de Ana das Carrancas. Uma artesã que viveu em Petrolina, região do semiárido do sertão de Pernambuco, e que superou grandes adversidades sociais e econômicas. Ela tornou-se uma artista reconhecida nacional e internacionalmente por meio de suas carrancas de barro, que trazem um enredo de luta, amor e superação. As reflexões serão fundamentadas nos pressupostos de Viktor Frankl (2013) e sua teoria da Logoterapia.

O interesse pelo tema surgiu, inicialmente, pelo impacto que a história desta artesã, assim como a beleza de sua obra provocou nas autoras deste trabalho. Uma obra de tamanha beleza que expressa o amor e a dor, a alegria e a melancolia, em todas as suas peças, demonstrando em sua simplicidade a natureza dinâmica da existência humana.

Outro aspecto que se mostrou relevante para o desenvolvimento deste trabalho foi como a história de vida de Ana das Carrancas revela o grande poder humano de superação que o ser humano conquista ao encontrar o sentido da vida, o que pode ser buscado em pequenas coisas que podem possuir vasto valor existencial na luta pela vida. A história de Ana pode ser considerada um modelo para tantas pessoas em desesperança, diante de adversidades existenciais. Tal aspecto traz à tona o trabalho desenvolvido por Viktor Frankl (2013) ao desenvolver a Logoterapia, fundamento teórico deste artigo. O autor, a partir de suas difíceis vivências em campos de concentração, aprofundou os principais conceitos da Logoterapia que serão trabalhados em nossas reflexões, tais como, valores, capacidade valorativa, sentido da vida, capacidade de resiliência entre outros.

Destaca-se que refletir sobre as vivências de Ana das Carrancas é de grande relevância social ao pensar em possibilidades de desenvolvimento de trabalhos sociais que possam resgatar por meio da arte o sentido da vida de pessoas que se encontram em situação de desesperança.

Quanto à metodologia, trata-se de uma pesquisa de cunho bibliográfico que se propõe a fazer um estudo reflexivo sobre a vida e obra de Ana das Carrancas com base nos conceitos da Logoterapia. A discussão teórica trará inicialmente, um resgate histórico do surgimento das carrancas, depois apresentará a síntese da vida e obra de Ana das Carrancas, por meio de diversas publicações sobre a artista, em meios de comunicação, como sites, revistas, documentários, jornais e livros, inclusive uma bibliografia publicada em 2006 pelo jornalista Emanuel de Andrade. Posteriormente, serão apresentados alguns fundamentos importantes da Logoterapia de Viktor Frankl (1978, 2003 e 2013, 2021), desenvolvendo-se as bases da literatura na fundamentação das discussões.

Por fim, serão apresentadas as reflexões entre a história e obra de Ana das Carrancas em articulação com as bases teóricas da Logoterapia. O que será realizado a partir de alguns trechos publicados de entrevistas com Ana das Carrancas, dialogados com os principais conceitos teóricos da abordagem. Nesta etapa, será desenvolvida uma reflexão de como as vivências de Ana das Carrancas revelam aspectos teóricos apontados por este trabalho. Para realizar tal discussão, serão apresentados alguns trechos de entrevistas publicadas com a artesã, discutidos em três categorias: O surgimento das Carrancas de Barro; A luta de viver da arte e Ana e o outro. Assim, convidamos nossos leitores a adentrar nesta história repleta de emoção, força e sentido que nos permite refletir sobre um “pedaço” dessa existência humana.

 

2 VIDA E OBRA DE ANA DAS CARRANCAS: A LOGOTERAPIA EM ATO

2.1 AS CARRANCAS DO VELHO CHICO: ORIGENS E SIGNIFICADOS

As carrancas constituem figuras lendárias do Rio São Francisco. É nessa região que elas são mencionadas pela primeira vez ornando barcos, segundo o registro feito pelo cronista Durval Vieira de Aguiar, em 1982, em sua obra “Descrições práticas da província da Bahia” (NEVES, 2002). A origem delas, porém, vai mais longe no tempo e no espaço. Na antiguidade, por exemplo, figuras de proa eram utilizadas para camuflagem na pesca. No Egito antigo, documentos que datam de 6 mil anos A.C., referem-se, especialmente, ao formato de touro como elemento místico. Contudo, a região do Rio São Francisco é a única do Ocidente com essa tradição, obtendo aqui essa nomenclatura própria (PARDAL, 2006).

Inicialmente, confeccionadas em madeira, as carrancas são figuras de cabeça de proa, caracterizadas por feições zooantropomorfas, uma combinação de feições humanas e animais. Possivelmente, surgem no Brasil por imitação das figuras de proas dos barcos europeus que aqui chegavam, passando a constituírem elementos de misticismo regional (PARDAL, 2006). As carrancas ganham expressividade própria no imaginário popular dos ribeirinhos são-franciscanos. Conforme descrições de Pardal (2006), embora de aspecto sombrio, o propósito das carrancas era defender os navegantes, cuja agressividade constituía um meio de afugentar os maus espíritos e protegê-los de naufrágios e tempestades.

Com o término do ciclo das embarcações, as carrancas vão deixando de ornamentar os barcos e passam a ocupar o interior das casas, tornando-se peça de decoração mesmo que ainda carregada do seu misticismo original (MACIEL e BRANDÃO, 2017). De símbolo do imaginário místico, as carrancas tornaram-se símbolo do imaginário da cultura popular, ocupando na atualidade um lugar de destaque na cultura popular nordestina pela peculiaridade e simbolismo artísticos.

Pela criatividade de cada artesão que a confecciona, a carranca reinventa-se em representação e expressão. Dentre elas, um dos maiores destaques de reinvenção da carranca nasce pelas mãos criativas da artesã Ana Leopoldina dos Santos, a Ana das Carrancas. Ela é considerada a artesã de maior destaque da cidade de Petrolina, PE, que é um dos maiores polos de confecção da carranca. Em Ana, as carrancas revelam outro propósito que só o desvelar de sua história de vida pode explicar.

 

2.2 DAS CARRANCAS DE ANA A ANA DAS CARRANCAS

Em 18 de fevereiro de 1923, em Santa Filomena, no sertão do Araripe Pernambucano, nasceu Ana Leopoldina dos Santos, que futuramente seria conhecida como Ana das Carrancas. Filha de Joaquim Inácio de Lima, agricultor, e Maria Leopoldina dos Santos, louceira. Andrade (2006) narra que foi com a mãe que Aninha, como era chamada na época, aprendeu a arte de modelar o barro. Com sete anos ela já ajudava a confeccionar utensílios domésticos, como pratos, panelas, vasos, além de figuras de animais e religiosas.

Embora o dom artístico tenha despertado desde cedo, o percurso para tornar-se a “Dama do Barro”, codinome ganho pela sua excelência na arte em modelar o barro, é marcado pela luta por sobrevivência e reconhecimento. A vida de Ana é calcada em histórias sofridas, porém acompanhadas de muita fé, trabalho e resistência.

Ana nasceu numa região assolada pela seca, onde a luta pela sobrevivência era diária. Andrade (2006) relata que a situação da família piorou com a morte do pai de Ana. A mãe da artesã ao ficar viúva pela segunda vez, passou a cuidar também da roça com a ajuda de Ana e de seu irmão mais novo. É assim, que Ana foi educada pelo ofício do trabalho e depositou com isto um grande valor como via de sobrevivência.

Andrade (2006) traz que quando Maria Leopoldina casou-se pela terceira vez, o novo padrasto de Ana, Hermínio Corrêia, deficiente visual que ganhava a vida cantarolando na feira, decidiu que a família iria para Picos, PI, onde ouvira falar de melhores oportunidades na feira da cidade.

Ana percorreu o caminho dos retirantes em busca de sobrevivência. Ela, sua mãe, seu padrasto e seus quatro irmãos juntaram o pouco que tinham e partiram com a bagagem na cabeça e outras na canga de um jumento.  Foram cerca de 20 dias lutando contra a sede, a fome e o cansaço. Pelo caminho, a solidariedade dos humildes e a cantoria de cego de Hermínio garantiram um pouco de água e comida.  Em Picos, as adversidades não cessaram, mas aos poucos a família começou a ganhar espaço na feira. Vendiam comida e as peças de barro. Em pouco tempo, tornaram-se  conhecidos de todos (ANDRADE, 2006).

 É na nova cidade que, aos 22 anos, Ana, agora conhecida como Ana Louceira, casou-se com o pedreiro Luiz Frutuoso da Silva. Eles tiveram duas filhas, Maria da Cruz e Ana Maria. Segundo descrição de Andrade (2006), seu esposo era desordeiro e bebia muito, o que trouxe muitos tormentos a Ana. Quando alguns anos mais tarde ela ficou viúva, sem lamentações nem entrega diante da dor, ela superou mais uma vez e se recompôs da perda por meio da entrega ao trabalho.

O trabalho como já percebido era um valor central na vida de Ana. É ele também que lhe proporciona o encontro de um novo amor. Andrade (2006) conta que cerca de um ano depois de tornar-se viúva, em meio da agitação diária na feira, Ana conheceu José Vicente de Barros. O autor descreve-o como homem simples e alegre. Deficiente visual que cantarolava na feira pedindo esmolas e comida. Com Zé Vicente, ela passou a ser conhecida como Ana do Cego, vivendo com ele a experiência transformadora do amor recíproco, do companheirismo, amizade e cumplicidade nas lutas e sonhos diários.

Em 1978, a família cresceu com a adoção de Ângela. Nesse tempo, a família já tinha migrado mais uma vez, agora para Petrolina, PE, em busca da prometida prosperidade e abundância do Rio São Francisco. Dessa vez, o percurso foi mais curto e menos sofrido que o primeiro (ANDRADE, 2006).

Na época, Petrolina era apenas uma passagem dos migrantes nordestinos que partiam para o sul em busca de melhorias. Na cidade, Andrade (2006) menciona que Ana continuava vendendo suas peças na feira, agora com muitos concorrentes, e Zé Vicente cantarolando suas cantigas.

Na década de 60, mais uma intempérie afligiu a vida de Ana. Foi uma época de escassez de barro na cidade, matéria prima do seu trabalho. No entanto, Ana, conforme descrições de Andrade (2006): católica fervorosa manteve sua fé e não se abalou. Ela rezou ao Padre Cícero e a São Francisco das Chagas, pedindo uma luz para que conseguisse sustentar a família. Não demorou para que suas preces fossem atendidas. Procurando barro às margens do Velho Chico, cavando debaixo de um pé de mussambê, planta típica da região, ela bateu em uma pedra que faísca, para ela um sinal da luz da fé, e foi quando encontrou barro em abundância e de vários tipos. Ao admirar os barcos que passavam, Ana teve a inspiração e ali mesmo modelou um barco com uma carranca na ponta, a quem chamou de “gangula”.

Andrade (2006), ao continuar a narrativa da história de Ana, traz que ela começou a produzir sua nova arte para vendê-la na feira, mas que obteve retorno negativo dos comerciantes e compradores, que zombavam de suas peças. Contudo, como mostra sua história, Ana não deixou de acreditar no potencial de sua arte e persistiu com a produção das carrancas em barro. Continuou confeccionando-as com originalidade, imaginação e simbolismo exclusivos. Andrade (2006) ainda destaca que ela as confeccionava em vários modelos e formas, mantendo sempre os traços zooantropomórficos, feições humanas com combinações de cavalo, leão, jaguatirica, guará etc. E embora ela produzisse em quantidade, ela não reproduzia a mesma imagem. Elas apresentavam semelhanças, mas cada carranca era única.

Suas carrancas foram sofrendo alterações ao longo do tempo, sendo a maior destas em 1973, quando suas carrancas receberam um tom melancólico da marca do amor a José Vicente, “o furo nos olhos de todas as carrancas que passou a produzir a partir daquele período, num tributo comovido a seu marido deficiente” (ANDRADE, 2006, p. 40). Segundo a narrativa de Andrade (2006) a homenagem ao esposo cego que a ajudava no processo de confecção das peças, amassando o barro, era também promessa para que o marido deixasse a mendicância.

Já popularmente conhecida como a Ana das Carrancas, foi a partir de 1970 que ela começou a ser reconhecida pela sua arte popular, quando foi descoberta pelos técnicos em turismo da Empetur (Empresa Pernambucana de Turismo) Olímpio Bonald Neto e Francisco Bandeira de Mello, que andavam pelo Sertão em pesquisa sobre o artesanato pernambucano (ANDRADE, 2006).  A partir daí, como traz Andrade (2006), as carrancas de Ana foram conquistando espaço no Estado, no país e no mundo, sendo que suas carrancas são hoje encontradas até em galerias de artesanato popular dos Estados Unidos e museus do Canadá e Alemanha.

Em 2000, mais um sonho foi realizado na vida de Ana, a inauguração do Centro de Arte Ana das Carrancas. A artesã sempre falava sobre o desejo de ter um espaço para exercício de seu ofício, para receber os visitantes, como também para ensinar sua arte às crianças (ANDRADE, 2006).

Pela força da fé e do trabalho, as carrancas de barro, inicialmente motivos de gozação, levaram Ana à consolidação de uma grife própria. As homenagens e condecorações pelo mérito de sua arte são inúmeras. Seu nome foi impresso em trabalhos acadêmicos, catálogos, livros, inclusive uma biografia exclusiva pelo jornalista Emanuel de Andrade em 2006. São poemas, cordéis, músicas e condecorações diversas, destacando-se em 2005 o recebimento da maior comenda cultural do país, a Ordem do Mérito Cultural do Ministério da Cultura. 

Sua arte é também lembrada e utilizada como modelo e instrumento de superação. Andrade (2006) destaca que em 2003, a Associação de Moradores do João de Deus, na época bairro da cidade com um dos maiores índices de violência, realizou uma Semana Folclórica, a fim de promover o resgate cultural na comunidade com o tema “Ana - 80 anos de Resistência Cultural”.

Em 2008, com 85 anos, Ana das Carrancas faleceu. Ela deixou um grande legado para a cultura popular nordestina e para a humanidade. Sua história e sua obra permanecem presentes em suas peças e na memória dos que a conheceram ou que entram em contato com sua história, mas também no funcionamento do seu Centro, onde as filhas Maria da Cruz e Ângela Lima prosseguem com a missão de Aninha, Ana Louceira, Ana do Cego, Ana das Carrancas, a Dama do Barro.

 

2.3 VIKTOR FRANKL E A LOGOTERAPIA

            A Logoterapia, criada por Viktor Emil Frankl, é considerada a terceira escola Vienense de Psicoterapia. A palavra “Logos” em sua obra significa “sentido”. Por esse motivo, sua teoria ficou conhecida como a “Psicoterapia do sentido da vida”. Frankl desenvolveu uma visão de homem que propôs a compreensão da existência, a partir da essência dos fenômenos humanos.

            Durante a segunda guerra mundial, como muitos outros judeus, Frankl foi vítima da perseguição nazista e foi enviado juntamente com a sua família para vários campos de concentração, inclusive o temível Auschwitz. Ele foi capaz de transformar os anos de sofrimento, os quais passou realizando trabalhos forçados em condições de vida miseráveis, em uma oportunidade de desenvolver suas pesquisas no campo da psicologia, aprimorando sua teoria da Logoterapia (FRANKL, 2013).

            Frankl por diversas vezes não só em suas obras, como também em participações em eventos e palestras utilizou a seguinte frase de Nietzsche, para sintetizar seu pensamento no que diz respeito à Logoterapia. “Quem tem um porquê viver pode suportar quase qualquer como” (FRANKL, 2013, p. 95-96). Ou seja, a mais valiosa lição aprendida por ele durante sua experiência nos campos de concentração, foi que as pessoas que possuíam um motivo para viver eram as que mais tinham forças para resistir aos tormentos e sobreviver ao martírio que lhes foi imposto por Hitler.

            Em síntese, para Frankl o sentido da vida não é uma criação humana e sim uma realidade ontológica. O homem não escolhe o sentido de sua vida, ele o descobre. Assim, tem-se que o sentido é mutável e pode modificar-se durante toda a vida (FRANKL, 2021).

Frankl (2021) criou, ainda, o conceito de “tríade trágica”: a dor, a culpa e a morte, para explicitar a amplitude do sentido da vida, que pode ser encontrado mesmo nesses elementos trágicos. Neste sentido, Moreira e Holanda (2010) afirmam que o ser humano não necessita de um estado livre de tensões, mas precisa sim de um objetivo que faça valer a pena a luta e inclusive as próprias tensões, afirmando que “o Homem procura não a felicidade em si, mas a razão para ser feliz” (MOREIRA e HOLANDA, 2010, p. 347), pois sofrimento, assim como felicidade destituída de sentido, não oferece ao ser humano significação existencial. Esta afirmação aponta para a condição ontológica do sentido da vida, que simplesmente existe, basta o “ente” encontrá-lo.

            A teoria Frankliana tem como finalidade a conscientização da pessoa, isso é, ampliar a visão de mundo frente à situação vivenciada, para que ela assuma a sua responsabilidade diante da liberdade de escolha perante o sentido. Como diz Frankl (2021): “Sentidos são descobertos, não podem ser inventados” (FRANKL, 2021, p.79). A Logoterapia busca levar o homem ao encontro de uma consciência de sua liberdade e responsabilidade perante a existência, enquanto essência da natureza humana. Assim, o homem tem a liberdade de adotar sua responsabilidade diante do sentido da vida (FRANKL, 2003).               

Uma das maiores lições da Logoterapia foi ensinar para a humanidade que é possível retirar do homem quase tudo, menos a sua liberdade, a capacidade de portar-se de forma positiva perante os desafios da vida. Contudo, faz-se necessário que ocorra um sacrifício por algo maior que o próprio ser; para Frankl (1978) “O que sacrifica dá ao sacrifício sentido, valor, preço. Dar sentido quer dizer entregar-se. Não é o que eu guardo comigo que retém valor; é o que eu sacrifico que adquire valor” (FRANKL, 1978, p. 263).

            Essa capacidade de suportar todo o sofrimento sem cair no desespero e ter uma postura firme perante as dificuldades da vida, chama-se resiliência. Considerada pela Logoterapia um fator protetor do psiquismo humano, que transforma comportamentos negativos em novas possibilidades, possibilitando o deslocamento da dor para além dela, favorecendo a superação (MOREIRA e HOLANDA, 2010). Este tema também é debatido na obra de Gomes (2016), que apresenta o conceito por diversas perspectivas. O autor considera a resiliência como uma característica intrapessoal que possibilita o humano enfrentar situações adversas sem se render a ela, colocando o homem em uma condição flexível diante da vida. Nas palavras do autor “...o ser resiliente se evidencia a partir da vivência de revés.” (GOMES, 2016, p. 165).

            Destaca-se que a Logoterapia está pautada em uma tríade de valores. Os criativos são aqueles encontrados nas obras humanas, que expressam as características pessoais do criador. Os vivenciais estão pautados na aprendizagem que ocorre na vivência dos homens. E os valores atitudinais referem-se à postura adotada perante a realidade, que por ser inalterável, obriga as pessoas a aceitarem a sua imutabilidade (FRANKL, 2021).

            Contudo, é importante ressaltar que até em situações de sofrimento extremo, como o vivenciado pelo próprio Frankl em Auschwitz é possível encontrar o sentido da vida. O que se dá na superação do niilismo perante a imutabilidade do real. Quando possível, logicamente, deve-se evitar situações dolorosas e sofríveis. Com isto, pode-se concluir que apesar da incapacidade humana de transformar a realidade, há algo que ninguém pode lhe tomar, a liberdade de escolher como encarar o sofrimento.  

 

2.4 O SURGIMENTO DAS CARRANCAS DE BARRO

            Olhando-se para a trajetória de Ana das Carrancas, é possível perceber que sua mudança para as margens do Rio São Francisco foi em busca de melhores condições de vida para sua família. A paixão pelo barro apresenta-se como força para vencer as adversidades da miséria. Sua trajetória demonstra superação pessoal e econômica, levando o seu trabalho a um reconhecimento nacional. Este movimento evidencia um dos três pilares (liberdade de vontade, vontade de sentido e sentido da vida) que constituem a Logoterapia, a vontade de sentido. Segundo Frankl (2021), o homem deseja e busca sempre um significado para a sua existência. Frankl (2021) afirma, ainda, que “O homem vive por seus ideais e valores, e a existência humana não é autêntica, a menos que seja vivida de maneira autotranscendente” (FRANKL, 2021, p. 69).

            No depoimento de Ana no Documentário “Carrancas do Rio São Francisco” ela diz:

 

Eu fui pra o Rio São Francisco. Lá eu já ia com o pensamento, de pedir a ele que me desse a graça que Zé abandonasse essa esmola. Aí quando eu cheguei lá que vi o pezinho de mussambê, eu tive a sensação que tinha, que ali tinha barro. Aí eu voltei em casa e peguei o picarete e fui, quando cheguei já cavei, aí quando eu cavei deu, bateu numa pedra, depois cavei novamente aí saiu fogo da pedra, eu digo: obrigada São Francisco, é a luz da fé, tenho certeza que Zé agora, o meu marido, ele vai deixar de pedir esmola (FULY, 2008, arquivo de vídeo).

           

Neste trecho do depoimento, fica evidente que ao iniciar o trabalho que seria a marca da sua arte, a artesã, diante do desespero, marcado pela ausência da matéria prima (o barro), recorre à fé e ao amor pelo marido para buscar novas possibilidades. O que vem de encontro com o que Frankl (2013) afirma ser um dos caminhos para se chegar ao sentido da vida, o autor afirma: “o sentido pode ser encontrado não só no trabalho, mas também no amor [...] O mais importante, no entanto, é o terceiro caminho para o sentido da vida” (FRANKL, 2013, p. 79).

                        Outro ponto, que pode ser discutido a partir da colocação de Ana no trecho, é a de que a pessoa torna-se um ser completo, quando absorvido pela dedicação a uma tarefa, quando [ este esquece a si mesmo, por uma dada causa ou pelo amor ao outro (MOREIRA e HOLANDA, 2010). E para exemplificar esta discussão, mais uma vez a voz de Ana nos fala:

 

Eu já tinha feito o pedido a São Francisco, se Zé, meu marido, ele deixasse de pedir esmola, eu fazia a homenagem a ele, de furar, os zolho de todos os meus trabalhos, das carrancas, das, e de tudo quanto fosse meus trabalhos. Eu fazia a homenagem a ele furando os zolhos das carrancas, não desfazendo porque ele é cego, mas entendendo que ele precisa de ser homenageado, porque ele é quem me ajuda, é quem pisa o barro, ele tira  a pedra do barro, ele pisa no pilão pra fazer o chamote (FULY, 2008, arquivo de vídeo).

 

            Destaca-se o quanto a criação das carrancas de barro de Ana foi significativa para sua vida e como seu processo de escolha foi produtivo.  Ana, diante da angústia existencial, buscou possibilidades, encontrou saídas e novos caminhos. Em toda a história de Ana, o sofrimento mostra-se presente, no entanto é uma presença repleta de significações em que ela pode se fortalecer e evoluir.

 

2.5 A LUTA DE VIVER DA ARTE

            Frankl (2013), assim como outros teóricos existencialistas, afirma que o sofrimento é inerente à existência humana. Partindo-se do princípio existencialista que diz que o homem é responsável por suas escolhas, cabe a ele decidir o que fazer com seu sofrimento. Como visto no seguinte relato de Ana: “É uma vida dura e pesada. Não é fazer a peça, tem que queimar, tem que vender. A gente luta para sobreviver, mas luta porque ama a arte. Se eu não amasse a minha arte já tinha deixado tudo, como muita gente também já pensou em desistir” (ANDRADE, 2006, p. 49/50).

            Nesta fala, fica evidente que Ana, uma lutadora, decidiu transformar em arte a sua dor. A experiência aponta-nos para o que Frankl (2021) descreve como as categorias de valores atitudinais, que podem ser compreendidas como o caminho em que a pessoa realiza-se por meio de uma passiva acolhida ao sofrimento inevitável. Neste sentido, Moreira e Holanda (2010) concluem, “e isso significa que a vida humana pode atingir a sua plenitude, não apenas no criar e gozar, senão também no sofrimento” (MOREIRA e HOLANDA, 2010, p. 347).

Ana ao ser questionada sobre o que é ser artista popular no Nordeste em 1995 pelo Diário de PE, destacou:

 

Para mim é uma coisa que deu muito resultado. Minha arte é herança de minha mãe que era louceira. Com ela aprendi muito. Depois o Divino Espírito Santo me inspirou para que eu fizesse o que desse em minha cabeça, e o que as minhas mãos pudessem modelar. Isso para mim é tudo. Eu me sinto muito feliz (ANDRADE, 2006, p. 49).

 

Ana contrariou as adversidades do seu contexto. Pobre, preta, sertaneja e nordestina. Mesmo com diversos marcadores de exclusão, tornou-se um ícone da cultura popular, reconhecida internacionalmente. A saga de sua vida refletida na sua arte ─ a dor, o sofrimento, a fé, a resistência, a esperança ─ edificaram e potencializaram a descoberta de sentidos ao longo de sua história. O que concretiza outro ponto da tríade em que se baseia a Logoterapia, a “liberdade de vontade”, em que Frankl (2021) explica que: “O homem não é livre de suas contingências, mas, sim, livre para tomar uma atitude diante de quaisquer que sejam as condições que sejam apresentadas a ele” (FRANKL, 2021, p. 29). Logo, o homem pode superar o determinismo e encontrar o sentido da vida mesmo nas piores circunstâncias, como fez Ana.

 

2.6 ANA E O OUTRO

Neste tópico de discussão, por refletirmos sobre aspectos relacionais, torna-se oportuno falar sobre cuidado, em uma perspectiva existencialista, pois a história de Ana revela em diversos momentos a sua disposição para cuidar do outro e de si. O que ocorre por meio da busca de possibilidades de superação. Destaca-se a grande preocupação com o marido, devido ao preconceito que este viveu por toda a vida. Para justificar esta afirmação, usaremos o que foi publicado na Revista Época: "Ana das Carrancas costumava dizer que sua arte era a síntese de seu amor por um cego que via o mundo, mas não era visto por ele. Entre ela e Zé dos Barros nunca se soube quem era criador, quem era criatura” (BRUM, 2008, ¶ 3º).

Ana não apenas superou suas próprias adversidades, mas ofereceu a um pedinte cego, dignidade e identidade em uma vida conjunta, evidenciando também o seu papel enquanto facilitadora no processo de desenvolvimento do marido. O que se evidencia em seus relatos, também pela publicação da mesma revista em que conta:

 

Um dia a vizinha abordou Ana na rua. “Desenteirei açúcar do meu filho para dar esmola a Zé”, queixou-se. O rosto de Ana queimou de vergonha. Tirou uma nota do bolso e retrucou: “Enteire de novo o açúcar do seu filho. Por Zé ele não vai passar fome”. Naquela noite não dormiu. Sua tristeza não coube na rede que dividia com Zé. Quando acordou, chamou o marido e anunciou: “Meu velho, nunca lhe fiz um pedido. Mas hoje lhe peço. De agora em diante, você não vai mais pedir esmola". Assustado, Zé rebateu: “Deus me fez sem vista para que eu pedisse esmola”. Ana fincou pé: “De hoje em diante sua vista é a minha. Você pisa o barro, eu faço a peça. Nós vamos levar para a feira, nós vamos ser felizes (BRUM, 2008, ¶ 8º).

 

            No trecho acima, é possível identificar dois elementos que compõem a “tríade trágica” de Frankl, a dor e a culpa. A primeira, no momento em que Ana das Carrancas sofre com a mendicância de seu marido, por crer ser algo humilhante. A segunda, quando assume a responsabilidade pelas ações do marido. O que a leva a incluir o marido na feitura de sua arte. Dessa forma, Ana encontra mais uma vez em sua arte um sentido para vida. Frankl (2021) explica que os elementos trágicos podem atuar enquanto intensificadores para o sentido.

            Podemos ainda destacar que a lição que Frankl traz de seu período em campos de concentração, na época da guerra, é que aqueles que possuíam motivos para viver mantinham-se mais fortes para resistir às adversidades. E como diz Ana: “A cegueira dele nunca foi barreira para a gente trabalhar juntos, ver as coisas acontecerem dentro e fora de casa. Ele sempre entendeu meu ofício no cheiro do barro queimado, sempre entendeu as carrancas como arte de vida, projeto de sobrevivência da nossa família” (ANDRADE, 2006, p. 65).

            Dessa forma, é relevante ressaltar que a vida e a obra de Ana das Carrancas podem ser compreendidas pelos três pilares proposto por Frankl (2021) em direção à transcendência: a liberdade da vontade, a vontade de sentido e o sentido da vida, como expõe um trecho do depoimento de Maria da Cruz, filha de Ana, no Documentário “As Carrancas do Velho Chico” que diz:

 

A mamãe disse que um dia ela presenciou uma cena que ela nunca esqueceu: disse que tava numa fazenda, no sítio, aí o senhor, que antigamente chamava coronel, aí disse que ele tava sentado, fumando charuto e com as netinhas brincando com minha mãe, que era tudo criança, aí disse que mamãe passou, aí disse que ele olhou assim, ai disse: ‘ham, ser mulher, ser pobre, ser nordestina e ser negra não chega a lugar nenhum.’ Aí ela disse que lá dentro do coração dela, ela dizia, ela pensou mesmo assim: ‘eu vou marcar meu nome na história desse país, meu nome é tão bonito, meu nome é Ana Leopoldina Santos e ela conclui, “ela sonhou e depois de grande, concretizou (CARDOSO, 2014, arquivo de vídeo).

 

            Nessa perspectiva, um dos conceitos que se destaca na história de Ana é o da resiliência. Ao se estudar a resiliência como fenômeno possível de superação, os dados deste estudo mostram que esta atitude geralmente está associada ao existir em relação ao outro (“ser-com-outros”). O que também se evidencia em todos os relatos de Ana na sua luta em conjunto com a família. Moreira e Holanda (2010) apontam para os diversos pilares do desenvolvimento pleno da resiliência. Na análise dos autores, a esperança e a fé surgem como importantes alicerces no desenvolvimento da resiliência, elementos presentes em vários relatos de Ana, já anteriormente citados.

Assim, podemos considerar a existência de Ana e de sua obra, uma existência repleta de sentido. Observa-se, ao longo da história de Ana, que houve um grande esforço de sua parte em estender suas ações para uma perspectiva de abrangência social, quando, por exemplo, foi criado em 2000 o Centro de Artes Ana das Carrancas. Como diz a própria Ana: “Aqui também é a casa de todos que sonham em fazer arte do barro. Quero dar minha contribuição para quem precisa” (ANDRADE, 2006, p. 117).

Ao longo deste trabalho e do discurso de Ana, percebe-se que o sentido da vida passa por diversas mudanças no decorrer da existência, lição ensinada pela vida de Frankl (2003, 2013) e de Ana. No caso da artista, destaca-se a luta contra a seca e contra a miséria, a luta pelo amor e pelo reconhecimento de sua arte.

Destarte, as carrancas de Ana imprimem o seu próprio movimento em busca do sentido da vida. Frankl (2013) postula três vias para a descoberta do sentido da vida. Ana percorre as três, numa trajetória que demarca sua arte: os valores criativos, na singularidade e autodidatismo de suas obras; os valores vivenciais, na sua fé e no seu amor a Zé Vicente, marcas de suas carrancas; e os valores atitudinais, na luta pelo reconhecimento e resistência diante das adversidades impostas pelo seu contexto social e econômico. Conforme depoimento da própria Ana o sentido da sua existência e sua arte se entrelaçam: “O barro é o começo e o fim de tudo. Sem ele não sou ninguém. Foi ele que me deu o direito. Não me separo dele pra coisa nenhuma, porque eu amo aquilo que ama a mim. O barro é um caco de mim” (BRUM, 2008, ¶ 12º).

 

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Entrar em contato com a história de Ana das Carrancas foi um exercício tocante tanto no aspecto vivencial quanto teórico. Foi possível verificar como o posicionamento de Ana das Carrancas diante da vida refletiu no processo de construção de sua arte, revelando seu movimento em busca do sentido da vida e da superação humana.  Evidencia-se que a vida e a obra de Ana das Carrancas foi, e ainda é, um exemplo de transcendência humana, sendo possível perceber em sua trajetória uma plenitude vocacional, uma busca de sentido, como a concebe Victor Frankl.

A vida e obra de Ana das Carrancas apresenta uma síntese do referencial teórico-metodológico utilizada neste trabalho: os valores criativos, vivenciais e atitudinais, os três pilares da Logoterapia  ─ liberdade de vontade, vontade de sentido e sentido da vida ─ os elementos da tríade trágica dor-culpa-morte, a angústia, o cuidado e a resiliência. Os quais são apresentados no percurso de sua história de vida e refletidos na produção de suas obras. Tais elementos, exemplificam os aspectos teóricos da Psicologia Existencial-humanista, mais especificamente da Logoterapia.

Assim, entende-se como é significativa a compreensão de uma teoria, quando ilustrada por uma vivência tão significativa como a aqui discutida. Vimos com Ana que a dor, o sofrimento, a miséria e o preconceito não justificam o desespero existencial.  Ao homem, cabe escolher o que fazer com aquilo que lhe foi dado. Destaca-se ainda, que a história de Ana das Carrancas revela o impacto cultural e social de sua obra no cenário da região em que viveu.

Contudo, sugere-se a continuidade de pesquisas que valorizem a herança artística, social e humanitária de artistas populares, como o de Ana das Carrancas. Assim como, a elaboração de novos levantamentos sobre o legado da artesã, mas agora de caráter empírico, a fim de investigar os significados e a percepção cultural na região em que ela viveu, sobre o seu legado humano e artístico.

 

4 REFERÊNCIAS

ANDRADE, Emanuel.  A Dama do Barro. Petrolina: Gráfica e Editora Franciscana, 2006.

 

BRUM, Eliane. Ana das carrancas deu adeus a Zé dos Barros. Revista Época, Rio de Janeiro. 09 ago. 2008. Disponível em: https://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,ERT14415-15228-14415-3934,00.html. Acesso em: 12 maio 2021.

 

CARDOSO, Lucia Padilha. Território das mãos: Maria da Cruz - filha de Ana das Carrancas. Youtube, 21 out. 2014. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=p1Ltapb2gf8. Acesso em: 12 maio 2021.

 

FRANKL, Viktor Emil. Fundamentos antropológicos da psicoterapia. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.

 

FRANKL, Viktor Emil. Psicoterapia e sentido da vida.  São Paulo: Quadrante, 2003.

 

FRANKL, Viktor Emil. Em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração. Editora Sinodal, 2013.

 

FRANKL, Viktor Emil. A vontade de sentido: fundamentos e aplicações da logoterapia. São Pulo: Paulus Editora, 2021.

 

FULY, André. Carrancas do São Francisco. Youtube, 29 jun. 2008. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=vgvCHDxVAbI. Acesso em 28 dez. 2021.

 

GOMES, Vitor. A fenomenologia da resiliência: teorias e histórias de vida. Curitiba: CRV, 2016.

 

MACIEL, Betania; BRANDÃO, Ricardo Rocha. Carrancas do São Francisco: a dinâmica de uma manifestação folkcomunicacional no contexto do Desenvolvimento Local. REVISTA HUM@ NAE, v. 11, n. 1, 2017.

 

MOREIRA, Neir; HOLANDA, Adriano. Logoterapia e o sentido do sofrimento: convergências nas dimensões espiritual e religiosa. Psico-USF, v. 15, n. 3, p. 345-356, 2010.

 

NEVES, Zanoni. Os remeiros do São Francisco na literatura. Revista de Antropologia, v. 46, n. 1, p. 155-210, 2003.

 

PARDAL, Paulo.  Carrancas do São Francisco. 3. ed. rev. São Paulo: Martins Fontes, 2006.


 

Title

Life and art of Ana das Carrancas: a study under the Logotherapy approach.

 

Abstract

According to Frankl (2021), a man only becomes complete, once, in the development of his work, he is only focused upon the achievement of his goals, upon his love dedicated to his art, and consequently, forgetting himself. From such perspective and having the principles of the Logotherapy, this study aims at reflecting about Ana das Carrancas’ life and the art setting a relation between her biography and some principles of the theory mentioned, pointing out the experiential, creative and the attitudinal values, the evaluative and resilient artisan capacity, highlighting her movement in the search of meaning of life and human resilience.

 

Keywords

Logotherapy; Ana das Carrancas; Meaning of life; Popular art.

 

 

Recebido em: 01/03/2022.

Aceito em: 13/06/2022.