TY - JOUR AU - Campello, Ronaldo PY - 2016/06/08 Y2 - 2024/03/28 TI - Em silêncio JF - Travessias JA - Trav. VL - 10 IS - 1 SE - ESCRITA LITERÁRIA AUTORAL DO - UR - https://saber.unioeste.br/index.php/travessias/article/view/14052 SP - e14052 AB - A maldição se espalha pela carne e infecta a alma E o pássaro observa... Notas dissonantes entoam cânticos que falam sobre dor, mas, neste corpo ela não existe mais Somente o verbo pode ferir-me com seus espinhos embebidos na mentira untados no pecado original Os corpos imaculados que ardem amalgamados, anatematizados na palavra úmida que proferes com poesia e astúcia e malicia... Observa em silêncio o pássaro... Unidos em fé, em lâmina e sangue, em pecado e gozo Sangue que em teu leito os vermes apreciam Sangue de tua carne macia que apodrece nas linhas do tempo Sangue de teu sangue que por ele morres Carne de tua carne que por ela matas O giz lívido de teus cariz infectados que apodrecem pouco a pouco Teu coração em minhas mãos que definha, e, em pó se transforma e escorre por entre os dedos frágeis e esquálidos que minhas chagas expõem Implore por ele... A mão trêmula que segura a pena e o papiro, Que julgam e sentenciam e punem-te por sua trágica existência... Lágrimas em teu colo denunciam sua vergonha Vísceras entre teus lábios revelam tua natureza Em silêncio o pássaro observa... A noite que finda, o corpo que cai, O sangue que coagula e os vermes que se alimentam de teus sonhos que se esvaem assim como o ar de teus pulmões que te deixam um pouco por vez, a morte que lhe sorri, a brisa suave da noite que toca tuas faces, e toca as lâminas esmeraldas em tuas órbitas semicerradas fitando o fim...  Em Silêncio... Calado como em um mudo assombro o pássaro observa com paciência e desejo, malícia e vontade, e com seus olhos negros como a noite, ele aguarda que enfim o ar de seus pulmões o abandone... Cadáver à luz plácida da lua, que borra a rotina com seu vermelho rubro  Cadáver que vivo foi um corpo de mentiras, um corpo de dor Em silêncio o pássaro espera... Ele sabe que saciará suas vontades, seus anseios se excitará em meio a carne ainda macia... Saciará sua sede no sangue ainda doce Em silêncio ele observa o cortejo de outros cadáveres Corpos que se alinham para sorrir da tragédia Imóveis...  Somente um a fome atormenta...  O outro seus pensamentos em delírio dilaceram sua alma Rasgando-me a carne sinto suas garras a dor é angustiante, navalhas destroçando minhas vergonhas, e as poucas vestes que ainda me cobrem Mas o mal que ele me faz... que fiz, sofro... Tento estender a mão, gritar, é impossível... Calado como em um mudo assombro Em silencio, em desespero e dor... Aquieta-te ó passageiro, estás a atravessar o Aqueronte não a volta para aqueles que nesta nave embarcam O turbilhão de outros que aqui também sofrem O sangue já coagulando sacia a sede A carne agora tem outro sentido, outro valor O que um dia proferiu falácias, hoje apodrece, de alimente serve, e a outrem não se faz entender... ER -