Testemunhos de violência em consultas ginecológicas: sexualidade, silêncio, margem.
Palavras-chave:
Testemunhos de violência, sexualidades, silêncio, margem.Resumo
O objetivo deste artigo é interrogar a relação entre o poder médico e os discursos normativos sobre a sexualidade, a partir da observação de discursos marginais às sexualidades heteronormativas. Trata-se de um estudo qualitativo que visa examinar as práticas linguageiras em testemunhos de lésbicas, bissexuais e transexuais em consultas ginecológicas. A análise é realizada tendo em vista um corpus composto de relatos coletados na internet. A abordagem teórica consiste em articular perspectivas dos estudos feministas às da análise do discurso, particularmente aquela desenvolvida no Brasil, sobretudo Michel Pêcheux e Eni Orlandi. A noção de silêncio elaborada por Orlandi articulada à noção de margem (hooks, 1990) baliza a reflexão. A análise do corpus de testemunhos permite ver a forma na qual o universalismo do discurso médico produz a normalização do corpo a partir de pré-construídos e estereótipos sobre as sexualidades. Trata-se de colocar em causa o determinismo biológico que predomina nos discursos médicos, de enfatizar a construção de identidades e normas de gênero e de considerar as articulações possíveis entre poder, gêneros e linguagem. Em outros termos, os testemunhos podem ser um modo de “conter a violência das normas que governam o gênero” (BUTLER, 2005, p. 43), no que diz respeito à crítica da concepção biológica do corpo que permanece dominante no quadro da medicina.
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