Eugenia: Entre o Criador e a Criatura - Um Enfrentamento Presente em Niebla (1914), de Miguel de Unamuno

Resumo

Este artigo resulta de análise e reflexões sobre o romance Niebla, (1914), por Miguel de Unamuno – autor espanhol que critica severamente a sociedade, a política e a religião, ao expressar preocupações acerca de tensões dialógicas presentes na sociedade de sua época especialmente àquelas voltadas a questões existenciais. Analisaremos como o autor retrata a vida cotidiana espanhola do final do século XIX e início do século XX, sob as diretrizes de alguns traços característicos das obras do realismo/naturalismo espanhol, em relação ao gênero e período literário na qual a obra se insere. Teceremos reflexões a respeito do tempo, circunstâncias espaciais e voz enunciadora do discurso. Deste modo nos centraremos nas ideologias dessa sociedade, ainda bastante medievalistas, cujos valores são masculinos e simbolizados na obra pelas ações de Augusto Pérez. Tal fato acaba se refletindo na tomada de decisões e ações executadas pelas personagens femininas desta obra. Refletiremos sobre a construção discursiva das personagens protagonistas femininas e suas relações com os valores que lhes eram impostos. Assim, buscaremos evidenciar como estes aspectos aparecem nas configurações das personagens e os meios utilizados para que sejam revelados pela voz enunciadora do discurso que as constrói e singulariza. Esses dados são de fundamental importância para a compreensão da essência do espírito espanhol, segundo intencionava retratar com objetividade a escrita de Unamuno. Preocupar-nos-emos, ainda, em verificar se a voz destas personagens femininas representa um discurso de submissão, de libertação ou se o seu criador lhes nega o direito a tal manifestação e existência.