A "viscosidade" da finitude
um enigma a luz de Sartre em O Ser e o Nada
DOI:
https://doi.org/10.48075/ra.v12i3.33096Palavras-chave:
Sartre, Morte, Finitude, Heidegger, MarcelResumo
Na conferência de 1945, Sartre põe na cena do debate filosófico duas figuras críticas a ele dirigidas: de uma parte, a censura marxista que considerara o “existencialismo” uma expressão puramente burguesa, metafísica, idealista; de outra, uma posição cristã, conservadora, diagnosticando sua filosofia como a mais infame caricatura satânica, demoníaca e apologética de um mundo sem Deus, sem moral e sem princípios. Le repas est prêt! Em meio a esse banquete, a mídia sensacionalista francófona exacerba teses de O Ser e o Nada (que, diga-se de passagem, sequer leu), a ponto de vir a adulterar completamente o seu sentido e alcance. Essa viscosidade é colocada como reação dos leitores ao se confrontarem com a liberdade, a angústia, o desamparo e, sobretudo, com a nudez da condição de livre mortal. A proposta deste trabalho é recolocar tal viscosidade fora de um adjetivo negativo, pari passu ao estigma da finitude. Esse outro tema se desdobra a partir de um recorte em O Ser e o Nada (2015). Ele projeta, ao lado das ranhuras da incompreensão, uma possibilidade de descrição fenomenológico-existencial. Isso se torna possível por uma interlocução fecunda com autores corolários da referida tradição filosófica: Heidegger (2015), citado no texto de Sartre (ser-para-a-morte), e Marcel (1981; 2005), sub-repticiamente perceptível numa carta, a propósito, esclarecedora. Objetiva-se confrontar essas tensões na disposição do texto sartriano com o intuito de abrir caminhos a um diálogo mais produtivo e propositivo. Mostraremos, enfim, que Sartre situa a finitude à luz da condição humana, inteiramente desamparada, mas, ao mesmo tempo, responsável do ponto de vista humanitário.
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