CHAMADA PARA PUBLICAÇÃO REVISTA DE LITERATURA, HISTÓRIA E MEMÓRIA V. 22, N. 39, 2026
A Revista de Literatura, História e Memória, ISSN 1983-1498, Qualis B1, vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), de periodicidade semestral, está com chamada aberta para o recebimento de artigos originais e inéditos para integralizarem sua próxima edição (v. 22, n. 39, 2026).
Em cada uma de suas edições a revista compõe-se de duas partes: um DOSSIÊ com temática definida, além de outra SEÇÃO, em fluxo contínuo, intitulada “Pesquisa em Letras no contexto Latino-americano e Literatura, Ensino e Cultura”, que agrega artigos diversos oriundos de pesquisa e estudos na área de Literatura.
Dossiê: Literatura e história: aproximações e distanciamentos
A representação da história pela ficção se estabelece em muitos níveis como um resgate do passado e um diálogo entre arte e sociedade. Essa relação evidencia uma compreensão teórica que envolve limites, aproximações e distanciamentos, tanto no que se refere à contribuição possível que a literatura, em suas formas ficcionais e poéticas, traz para o conhecimento e a compreensão da história, quanto à contribuição da história para o desenvolvimento da arte.
Entendendo as fronteiras e as margens como marcos naturais entre os campos do conhecimento, na relação entre literatura e história elas são sobretudo simbólicas pela capacidade do literário de refigurar o real, criando um jogo de representações que atua na construção de um objeto híbrido ora aproximando ora distanciando a visão sobre os acontecimentos e o discurso sobre eles (Pesavento, 2001).
A literatura como “parte inseparável da cultura não pode ser entendida fora do contexto pleno de toda a cultura de uma época” (Bakhtin, 2003, p. 360). Essa compreensão não pode se restringir apenas em relação ao presente ou o passado recente, mas precisa alcançar em perspectiva sincrônica outros momentos da história. Vista por esse prisma, a literatura se torna uma fonte relevante que, ao tomar a história como tema da representação literária, presentifica um modo de viver e compreender a sociedade em determinado momento de sua história, estabelecendo o registro de acontecimentos e da transformação das sociedades.
Da mesma forma que os estudos da literatura não podem prescindir da contribuição direta das ciências sociais, também a história pode encontrar na literatura perspectiva analítica enriquecedora para sua reflexão sobre a experiência humana (Sevcenko, 2003). O horizonte analítico que se abre alcança historiadores como Michel de Certeau (2022, p. 68) em sua afirmação sobre a ação do historiador de que ele “pode transformar em cultura os elementos que extrai de campos naturais [...] ele procede a um deslocamento da articulação natureza/cultura” ou, em outra perspectiva, a compreensão da história como narrativa adotada por Hayden White, em Trópicos do Discurso, que a toma como um “artefato verbal”.
As contribuições desses teóricos, dentre outros e em medidas próprias, evidenciam a justeza dos estudos literários apoiados na sua relação com a história. Nesse sentido, a proposta para este dossiê é reunir estudos que sinalizem em que medida se pode sentir a presença da história na ficção, como mapa sincrônico e/ou geográfico de um determinado momento ou de um grupo sociocultural. A preferência delimitada alcança sobretudo a história e o romance brasileiro, mas pode abranger com naturalidade a poesia e ser estendido ao continente latino-americano.
Referências
BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal, 4.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
DE CERTEAU, Michel. A escrita da história. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2022.
PESAVENTO, Sandra Jatahy. Fronteiras do milênio. Porto Alegre: Ed. Universidade/UFRGS. 2001.
SEVCENKO, Nicolau. Literatura como missão: tensões sociais e criação cultural na Primeira República. São Paulo: Brasiliense, 2003, 2 ed.
WHITE, Hayden. Trópicos do discurso. Ensaios sobre a crítica da cultura. São Paulo, Edusp, 1994.
Organização: José Carlos da Costa (Unioeste) e André Luiz Leme (Unioeste)
Submissões: até 28 de fevereiro de 2026.