"Angústia" e os tormentos da memória

Autores

  • Rita Felix Fortes

DOI:

https://doi.org/10.48075/rlhm.v4i4.1216

Resumo

Objetiva-se neste estudo analisar as estratégias narrativas do romance Angústia, de Graciliano Ramos. Estratégias estas pautadas nos mecanismos da memória do perturbado narrador Luís da Silva que, imerso em uma profunda crise existencial, deseja evadir-se do tempo presente, através da evocação de tempos passados. Evasão esta representada pela viagem enquanto símbolo do seu desejo profundo e frustrado de mudança. Essa viagem remete às evocações de um tempo de angústia, solidão e tédio, cuja única vantagem em relação ao presente é a distância entre o vivido e o lembrado. Luís, ao evocar o passado, procura encontrar na perdida fazenda do avô, respostas para a angustiante mediocridade da sua vida presente e para a sua estúpida condição de “sururu”. Entretanto, estas evocações, ao invés de servirem de alento, revelam-se inúteis, visto que lembrar a glória perdida não o redime nem o salva da miséria e da desesperada consciência de sua presente degradação moral, econômica e social. Graciliano Ramos, ao subjugar a personagem Luís da Silva à crueldade de uma evocação narrativa que, apenas, acentua seu desespero, aponta para a recorrência temática da sua produção literária – cujas personagens são, sempre, marcadas pela amargura e pela miséria – mas, também, para a sua própria angustia existencial. Ele despoetiza qualquer ilusão salvística atribuível à literatura e, ao fazê-lo, ironiza sua própria produção. É como se escrever fosse o caminho dos fracassados, como Luís da Silva: uma das personagens narradoras mais marcantes e desesperadas da sua obra.

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Publicado

01-01-2000

Como Citar

FORTES, R. F. "Angústia" e os tormentos da memória. Revista de Literatura, História e Memória, [S. l.], v. 4, n. 4, p. p. 215–229, 2000. DOI: 10.48075/rlhm.v4i4.1216. Disponível em: https://saber.unioeste.br/index.php/rlhm/article/view/1216. Acesso em: 3 nov. 2024.

Edição

Seção

Artigos