Um realismo pós-moderno? Uma indagação sobre a produtividade realista do discurso literário de "Soldados de Salamina" (2001), de Javier Cercas

Resumo

Javier Cercas faz parte de uma geração de jovens romancistas espanhóis cuja obra se caracteriza pela metanarratividade. Oleza (1996) caracteriza esta geração dos noventa da literatura espanhola pelo retorno de uma temática cara à tradição realista, como as relações entre realidade e imaginação, ficção e historicidade. Este trabalho pretende verificar como se dá, na própria construção ficcional do romance Soldados de Salamina (2001), a montagem desta complexa rede discursiva e se a mesma projeta uma leitura realista como tarefa do leitor-modelo. Para tanto, partiremos da sistematização elaborada por Darío Villanueva (2004) das teorias do realismo literário e de sua proposta de uma abordagem baseada nas contribuições da Pragmática para o discurso literário. Por fim, buscaremos determinar em que medida se pode considerar esta obra como um exemplo de um “realismo pós-moderno”, tendo em vista as considerações de Oleza (1993, 1994 e 1996). Em síntese, a trama da obra transcorre na província de Gerona nos anos 90, embora remonta a uma situação acontecida durante a Guerra Civil Espanhola e em outra ocorrida pouco depois, durante a Segunda Guerra Mundial, no norte da África e na França, na liberação de Paris. O livro começa com uma entrevista, que o narrador faz para um jornal em que trabalha e que atrai sua atenção sobre a surpreendente história de como Rafael Sánchez Mazas sobreviveu a um fuzilamento. Sánchez Mazas era um escritor que fundou a Falange Española junto com Primo de Rivera, assim como criou grande parte da fundamentação ideológica da Falange. Sua história nos conduz, então, à recuperação de fatos ligados ao conflito civil ocorrido na Espanha e ao destino destes personagens, muitas vezes esquecidos sob o pacto de silêncio estabelecido durante a transição rumo à redemocratização da Espanha.