UMA ARMADILHA PERFEITA: O OLHAR EXOTÓPICO EM “JE NE PARLE PAS FRANÇAIS” DE KATHERINE MANSFIELD

Resumo

Dotada de extremo lirismo e aguçada sensibilidade, a obra de Katherine Mansfield marcou uma geração de escritores do início de século XX e solidificou suas bases dentre produções literárias em língua inglesa. Em uma época em que, à mulher, eram reservados espaços do universo íntimo e privado nas relações sociais, a escrita de Katherine Mansfield vem revelar o lado oculto desse universo público, lado este tão essencial ao conhecimento de nós mesmos. A partir dessa clarificação psicológica, fatos ordinários da vida cotidiana adquirem novas perspectivas sob o foco de uma personagem em constante auto-afirmação. É o caso do conto “Je ne parle pas Français”, cujo personagem-narrador Raoul Duquette apresenta um discurso ambíguo, sedutor e, por conseguinte, repleto de armadilhas subliminares capazes de atrair presas frágeis e inocentes. Baseando-se na manipulação discursiva proveniente daquele que relata a sua própria história e na distância espaço/temporal entre o vivenciar e o relatar, este trabalho tem como objetivo analisar o referido conto no que se refere ao foco narrativo e à simbologia do cão e do camundongo para, enfim, ilustrar a (des)construção da noção de gênero. Para tanto, aplicamos o conceito de exotopia, de Mikhail Bakhtin, com o intuito de verificar o olhar excedente no âmbito espaço/temporal de um narrador em primeira pessoa.