Os anéis de crescimento da cultura
vida e experiência em Nietzsche
DOI:
https://doi.org/10.48075/ra.v11i3.32609Resumo
No aforismo 272 de Humano, demasiado humano, Nietzsche apresenta a intrigante tese que a história humana dos últimos trinta mil anos pode ser sintetizada nos primeiros trinta anos da vida de um homem. O filósofo alemão, então com 33 anos completados, se baseia em suas próprias vivências para interpretar as principais fases da história. Nietzsche anuncia cinco estágios que coincidem com o seu desenvolvimento, pessoal e filosófico, até o presente momento: 1) a crença religiosa; 2) a destituição dessa crença; 3) a inclinação à metafísica; 4) a ilusão artística; 5) a investigação científica. O objetivo dessa comunicação é expor, primeiramente, como essa tese nietzschiana acerca da história humana está em sintonia com sua própria história, para, assim, elucidarmos a importância da ciência dada por Nietzsche em Humano, demasiado humano, que o permite fazer tal experimento. Ao examinarmos a vida do filósofo, percebemos a ocorrência dos cinco estágios descritos acima: 1) por advir de uma família de pastores protestantes, essa tinha a pretensão de moldar, através da educação, na instrução religiosa, para que Nietzsche também pudesse seguir o ofício de pastor; 2) tarefa não levada adiante, pois Nietzsche decide estudar filologia ao invés de teologia, pois, nesse momento, os pressupostos cristãos não lhe faziam mais sentido; 3) ocorre o contato e o encanto com a filosofia de Schopenhauer; 4) em seguida, se torna amigo e seguidor de Wagner, dedicando seu primeiro livro ao músico alemão; 5) enaltece a ciência, a história e psicologia como instrumentos imprescindíveis para a investigação filosófica. O título conferido ao aforismo, a saber, Os anéis de crescimento da cultura individual, revela que o percurso descrito não deve ser entendido de maneira linear, mas circular. No entanto, o filósofo adverte para a importância de passar pelos estágios descritos, sobretudo, o estético, desaconselhando saltar da religião para a concepção científica. Cabe, assim, averiguarmos a importância do quinto e último estágio nesse período da reflexão nietzschiana.
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