O potencial emancipatório da agroecologia em questão: Dos riscos de cooptação à construção da autonomia
DOI:
https://doi.org/10.48075/amb.v2i2.26584Palavras-chave:
Práticas agroecológicas, Ecologia Política, lutas sociaisResumo
Assim como as preocupações ecológicas/ambientais de modo geral, a noção de agroecologia adquiriu ao longo de sua história uma forte ambivalência, sendo incorporada por agentes e instituições com os mais diversos interesses, muitas vezes antagônicos. Dessa forma, notamos que o termo “agroecologia” vem sendo utilizado com sentidos fundamentalmente distintos. O objetivo do presente artigo consiste em problematizar o caráter ambíguo da agroecologia e questionar seu suposto potencial emancipatório, buscando, de um lado, elucidar as origens histórico-geográficas de sua difusão e, de outro, enfatizar que as múltiplas escalas de análise, as relações de poder e a dinâmica da luta de classes são elementos fundamentais a serem considerados na análise da territorialização das práticas agroecológicas. Trazemos, assim, contribuições das ciências humanas e do pensamento crítico para ajudar a qualificar essa reflexão. Apresentamos o campo da Ecologia Política como uma forma promissora de compreender a questão ambiental de forma geral, bem como as disputas no interior da agroecologia em particular. Discutimos os discursos políticos sobre a agroecologia elaborados pela FAO e pela Via Campesina, com o intuito de apontar alguns dos principais marcos desse debate na atualidade. Por fim, considerando os riscos de cooptação dos movimentos agroecológicos atualmente, apontamos possíveis caminhos para qualificar a análise sobre o seu potencial emancipatório. Concluímos que as práticas agroecológicas devem estar associadas à construção da autonomia para servir efetivamente à alegada emancipação social e ao enfrentamento do atual sistema de produção agrário/agrícola capitalista.
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