Conflitos pela água na Amazônia: O caso do povo indígena Yudjá e a Usina Hidrelétrica Belo Monte

Autores

  • Shirley Capela Tozi Instituto Federal do Pará
  • Wagner Costa Ribeiro Universidade de São Paulo (USP)

DOI:

https://doi.org/10.48075/amb.v4i2.29976

Resumo

Conflitos são objetos de estudo do conhecimento geográfico e surgem por diversas razões. Eles podem resultar de tensões que ocorrem em um dado momento no espaço geográfico. Os conflitos por água aumentam em todo mundo, inclusive na Amazônia apesar de abundância da água neste ecossistema. A Amazônia sempre foi ocupada por povos originários e tradicionais que utilizam a floresta para suprir suas necessidades. Mas seus gêneros de vida, ritos e costumes muitas vezes afrontam projetos que buscam outra forma de apropriação da água da bacia amazônica. O resultado é a ameaça de extinção de povos, que são impedidos de manter seus costumes tradicionais. Esta situação ocorre na Volta Grande do rio Xingu que foi diretamente afetada pela construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte. O represamento da água tornou o rio desconhecido ao povo Yudjá, posto que as oscilações hidrográficas de outrora foram alteradas. O rio tornou-se desconhecido porque não oferece do mesmo modo os serviços ambientais fundamentais à reprodução de modo de existir do povo. Os peixes não estão mais presentes como antes e as cheias e vazantes também foram alteradas. Esse artigo tem como objetivo subsidiar as discussões sobre conflito, principalmente os que envolvem a água, por meio de uma análise do conflito gerado entre o povo originário Yudjá e a instalação da Usina Hidrelétrica de Belo Monte. A metodologia utilizada é a análise documental e bibliográfica. A pesquisa revelou que a redução dos volumes de água comprometeu o modo de vida de um povo originário. As tensões que resultaram da apropriação da água ainda não foram equacionadas e podem ampliar a injustiça ambiental causada pela imposição de um uso da água, qual seja, a geração de energia, sobrepondo-o às práticas tradicionais do povo Yudjá.

Palavras-chave: Conflito por água; Yudjá; UHE-Belo Monte.

 

Water conflicts in the Amazon: The case of the indigenous people Yudjá and the Belo Monte Hydroelectric Power Plant

 

Abstract

Conflicts are objects of study of geographic knowledge and arise for several reasons. They can result from tensions that occur at a given moment in geographic space. Conflicts over water are increasing worldwide, including in the Amazon despite the abundance of water in this ecosystem. The Amazon has always been occupied by indigenous and traditional peoples who use the forest to meet their needs. But their ways of life, rites and customs often confront projects that seek another form of appropriation of water from the Amazon basin. The result is the threat of extinction of peoples, who are prevented from maintaining their traditional customs. This situation occurs on the Volta Grande of the Xingu River, which was directly affected by the construction of the Belo Monte Hydroelectric Power Plant. The damming of the water made the river unknown to the Yudjá people, since the hydrographic oscillations of the past were altered. The river has become unknown because it does not equally offer the fundamental environmental services for the reproduction of the people's way of existing. The fish are no longer present as before and the floods and ebbs have also changed. This article aims to support discussions on conflict, especially those involving water, through an analysis of the conflict generated between the original Yudjá people and the installation of the Belo Monte Hydroelectric Power Plant. The methodology used is documental and bibliographical analysis. The research revealed that the reduction of water volumes compromised the way of life of an original people. The tensions that resulted from the appropriation of water have not yet been resolved and may increase the environmental injustice caused by the imposition of a use of water, that is, the generation of energy, superimposing it on the traditional practices of the Yudjá people.

Keywords: Water-conflict; Yudjá; Belo Monte Hydroelectric Power Plant.

 

Conflits pour l'eau en Amazonie: Le cas des peuples indigènes Yudjá et la Centrale Hydroélectrique Belo Monte

 

Resumé

Les conflits sont des objets d'étude de la connaissance géographique et se produisent pour plusieurs raisons. Elles peuvent résulter de tensions qui surviennent à un moment donné de l'espace géographique. Les conflits autour de l'eau se multiplient dans le monde, y compris en Amazonie malgré l'abondance d'eau dans cet écosystème. L'Amazonie a toujours été occupée par des peuples indigènes et traditionnels qui utilisent la forêt pour subvenir à leurs besoins. Mais leurs modes de vie, rites et coutumes se heurtent souvent à des projets qui cherchent une autre forme d'appropriation de l'eau du bassin amazonien. Le résultat est la menace d'extinction des peuples, qui sont empêchés de maintenir leurs coutumes traditionnelles. Cette situation se produit sur la Volta Grande du fleuve Xingu, qui a été directement touchée par la construction de la Centrale Hydroélectrique de Belo Monte. Le barrage de l'eau a rendu la rivière inconnue du peuple Yudjá, car les oscillations hydrographiques du passé ont été modifiées. Le fleuve est devenu méconnu car il n'offre pas également les services environnementaux fondamentaux pour la reproduction du mode d'existence du peuple. Les poissons ne sont plus présents comme avant et les crues et reflux ont également changé. Cet article vise à soutenir les discussions sur les conflits, en particulier ceux impliquant l'eau, à travers une analyse du conflit généré entre le peuple Yudjá et l'installation de la Centrale Hydroélectrique de Belo Monte. La méthodologie utilisée est l'analyse documentaire et bibliographique. Le travail ai révélé que la réduction des volumes d'eau compromettait le mode de vie d'un peuple originel. Les tensions qui ont résulté de l'appropriation de l'eau ne sont pas encore résolues et peuvent accroître l'injustice environnementale causée par l'imposition d'un usage de l'eau, c'est-à-dire la génération d'énergie, la superposant aux pratiques traditionnelles du peuple Yudjá.

Mots-clés: Conflits d'eau; Yudjá; Centrale Hydroélectrique Belo Monte.

Biografia do Autor

Shirley Capela Tozi, Instituto Federal do Pará

É Bacharel e Licenciada em geografia (Universidade Federal do Pará - 2002); Doutor em Geografia Humana (Universidade de São Paulo - 2021); e Professor Efetiva (2010) do Curso de Licencatura em Geografia, e da Especialização em Ensino de Geografia do Departamento de Formação de Professores do IFPA-Campus Belém. Foi coordenadora do Curso de Licencatura em Geografia (2011a 2015), coordenadora da especialização (2017 a 2018). Foi Coordenadora do Projeto de Residência Pedagógica (2018). Fui presidente de Processos Seletivos para ingresso nos cursos técnicos do IFPA. É presidente do Grupo de Pesquisa de Saberes Geográficos/IFPA. Faz parte do Grupo de Pesquisa Geografia das Águas da Amazônia - GGAM/UFPA e do Grupo de Pesquisa de Geografia Politica - GEOPO/USP. Faz parte da Área Temática "Águas Transfronteiriças" da rede de pesquisa Waterlat/Gobacit,  Também é membro da Rede de Pesquisa Geografia SocioAmbiental e da Rede de Pesquisa em Geografia das Águas no Brasil. Tem experiência na área de Geografia, com ênfase em Geografia Física, Geografia Política e meio ambiente. 

Wagner Costa Ribeiro, Universidade de São Paulo (USP)

Atual Vice-Prefeito da Cidade Universitária Armando Salles de Oliveira, é geógrafo (Universidade de São Paulo - 1986); Doutor em Geografia Humana (Universidade de São Paulo - 1999); e Professor Titular (2011) do Departamento de Geografia, do Programa de Pós-Graduação em Geografia Humana e do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental (PROCAM) da Universidade de São Paulo (USP). Fez pós-doutorado na Universidade de Barcelona (2002 e 2005) e tornou-se Livre Docente em 2004, também na USP. Foi presidente do PROCAM, entre 2006 e 2008, e coordenador do Grupo de Pesquisa em Ciências Ambientais do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, entre 2008 e 2012. Foi professor visitante da Universidade de Salamanca (Espanha), da Universidade de Sevilha (Espanha) e da Universidade de Caldas (Colômbia). É coordenador da Área Temática "Águas Transfronteiriças" da rede de pesquisa Waterlat/Gobacit, pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e do Grupo de Pesquisa Meio Ambiente e Sociedade do IEA-USP. Também é membro da Rede de Pesquisa Geografia SocioAmbiental e coordenador da Rede de Pesquisa em Geografia das Águas no Brasil. Tem experiência na área de Geografia, com ênfase em Geografia Política e meio ambiente. Os principais temas de pesquisa são: políticas públicas ambientais, relações internacionais e meio ambiente, gestão de recursos hídricos e ordem ambiental internacional. Autor de diversos artigos acadêmicos, dos livros A ordem ambiental internacional (2001 e 2005 - segunda edição), Geografia política da água (2008) e das coleções didáticas Por dentro da Geografia e Geo Conecte live.

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Publicado

28-12-2022

Como Citar

TOZI, S. C.; RIBEIRO, W. C. Conflitos pela água na Amazônia: O caso do povo indígena Yudjá e a Usina Hidrelétrica Belo Monte . AMBIENTES: Revista de Geografia e Ecologia Política, [S. l.], v. 4, n. 2, p. 201–226, 2022. DOI: 10.48075/amb.v4i2.29976. Disponível em: https://saber.unioeste.br/index.php/ambientes/article/view/29976. Acesso em: 19 abr. 2024.

Edição

Seção

Artigos