Chamada de Artigos - Dossiê "Discurso e letramento literários e não-literários em contextos periféricos: narrativas, imaginários e experiências dentro e fora da Amazônia" (v. 18, n. 2, maio/ago. 2024)

01-02-2024

Chamada de Artigos: Dossiê “Discurso e letramento literários e não-literários em contextos periféricos: narrativas, imaginários e experiências dentro e fora da Amazônia” (v. 18, n. 2, maio/ago. 2024)

Organização: Prof. Dr. Gilberto A. Araújo (University of the Witwatersrand & UFPA), Prof. Dr. Edmon Neto de Oliveira (UFPA) e Profa. Dra. Eliene R. Sousa (UNITINS).

Submissão: até 12/05/2024

Diretrizes para autores: https://e-revista.unioeste.br/index.php/travessias/about/submissions

Sobre o Dossiê:

Se na literatura o cânone tende a capturar prestígio social e vantagens na economia da atenção em determinados circuitos (elitistas) de cultura (ver. PASCOLATI; PLATZER, 2019), continuamente impelindo para as margens a produção literária/artística que não se conforma aos padrões privilegiados de dado momento/espaço (ver. JACOMEL, 2009), no contexto das práticas de letramento – sejam elas formais ou não –, experiências e concepções de ensino-aprendizagem brasileiras são frequentemente compreendidas/formadas a partir da ótica metropolitana dos centros de poder acadêmico do país: o sudeste, o centro-oeste e o sul (ver. ANDRE, 2006; SILVA; BORBA, 2018). Isso se deve não somente ao fato de que instituições de pesquisa em língua e literatura se concentram nessas regiões, mas esse quadro é também decorrente das profundas desigualdades socioeconômicas que, não obstante os avanços recentes, continuam a contrastar as realidades de letramento e produção literária no espectro do Brasil austral e setentrional, urbano e rural, branco e afro-indígena, vulnerável e privilegiado, periférico e burguês.

Essa dinâmica não significa dizer, contudo, que não haja assimetrias de poder no campo da pesquisa em literatura e letramento dentro das próprias regiões focais mencionadas acima, na medida em que as vozes de determinados centros/departamentos de investigação se fazem ouvir mais frequente e atentamente do que outros nos mesmos espaços imediatos de atuação (cf. VICTORA; MOREIRA, 2006). Nesse sentido, o presente dossiê se abre prioritariamente a pesquisadores e pesquisadoras da Amazônia, do Nordeste e de outras regiões do país e do mundo que, em contextos de marginalização, investigam práticas de letramento e discursos na literatura, nas mídias, e para além delas. Isso significa dizer que este dossiê constrói um fórum de debate sobre questões relevantes aos estudos em formação linguística e práticas discursivas, literárias/artísticas e não-literárias/não-artísticas, a partir de perspectivas emancipatórias e sensíveis à diferença, capazes de perscrutar as relações de poder que sustentam ou circunstanciam diversos tipos de assimetria socioeducacionais, culturais e político-econômicas.

Ainda sob esses termos, este dossiê acolhe trabalhos que se fundamentam nas mais variadas correntes teórico-metodológicas oriundas da Linguística Aplicada, Sociolinguística, Análises do Discurso, Estudos Midiáticos, Estudos Literários, Estudos Culturais, Educação, dentre outros campos relativos à dimensão formativa em língua e literatura, à produção artística, à construção e funcionamento do imaginário, das narrativas e das práticas formativas em espaços marginalizados de algum modo, ou em algum grau. Pela amplitude dos pontos de vista admitidos, e considerando prioritariamente pesquisadoras e pesquisadores do eixo do Norte-Nordeste brasileiro, de nossos vizinhos latino-americanos e do continente africano, mas sem rejeitar estudos advindos de outras partes do país e do mundo – desde que contemplados no escopo desta proposta –, o presente dossiê contribui para a emergência de um retrato mais preciso e engajado acerca das condições educacionais, do corpo de literatura, da arte e da consciência social que se fomenta nas áreas mais periféricas do Brasil e além. Trata-se não apenas de visibilizar a arte literária, cinematográfica (entre outras), seus discursos e as experiências de ensino-aprendizagem de língua provenientes ou vinculadas a espaços frequentemente subalternizados ou excluídos de determinados circuitos da cultura (acadêmica). A presente proposta é também um esforço conjunto que, a despeito das disputas acirradas que se empreendem na economia das atenções científicas e editoriais (cf. STIGGER et al., 2010), garante a merecida e necessária plataforma para que artefatos artísticos, práticas de letramento e construções socio-imaginárias secundarizadas, no sentido concreto e metafórico que sugere Emecheta (2021), galguem seu lugar de destaque na esfera da produção e publicização das pesquisas linguísticas, literárias e educacionais no cenário nacional e internacional.

 

Referências

ANDRE, Marli. A jovem pesquisa educacional brasileira. Rev. Diálogo Educ., v. 06, n. 19, p. 11-24, 2006.

EMECHETA, Buchi. Second-Class Citizen. London: Penguin Classics, 2021.

JACOMEL, Mirele Carolina Werneque. Relações de poder e a literatura brasileira. Revista Grifos, v. 18, n. 26, p. 7-16, 2009.

PASCOLATI, Sonia; PLATZER, Maria Betanea. Cânone e escola: disputas de poder. Terra Roxa e Outras Terras: Revista de Estudos Literários, v. 37, p. 5-8, 2019.

SILVA, P. V. B. da; BORBA, C. dos A. de. Políticas Afirmativas na Pesquisa Educacional. Educar em Revista, v. 34, n. 69, p. 151–191, maio 2018.

STIGGER, Marco Paulo et al. Revista Movimento: analysis of the meanings and repercussions of a journal that “builds itself” in the field of Brazilian physical education. Movimento, v. 16, n. 1, p. 113-141, 2010.

VICTORA, Cesar G.; MOREIRA, Carmen B. Publicações científicas e as relações Norte-Sul: racismo editorial? Revista de Saúde Pública, v. 40, p. 36-42, 2006.