Testemunhos de violência em consultas ginecológicas: sexualidade, silêncio, margem.

Autores

Agências de fomento

Palavras-chave:

Testemunhos de violência, sexualidades, silêncio, margem.

Resumo

O objetivo deste artigo é interrogar a relação entre o poder médico e os discursos normativos sobre a sexualidade, a partir da observação de discursos marginais às sexualidades heteronormativas. Trata-se de um estudo qualitativo que visa examinar as práticas linguageiras em testemunhos de lésbicas, bissexuais e transexuais em consultas ginecológicas. A análise é realizada tendo em vista um corpus composto de relatos coletados na internet. A abordagem teórica consiste em articular perspectivas dos estudos feministas às da análise do discurso, particularmente aquela desenvolvida no Brasil, sobretudo Michel Pêcheux e Eni Orlandi. A noção de silêncio elaborada por Orlandi articulada à noção de margem (hooks, 1990) baliza a reflexão. A análise do corpus de testemunhos permite ver a forma na qual o universalismo do discurso médico produz a normalização do corpo a partir de pré-construídos e estereótipos sobre as sexualidades. Trata-se de colocar em causa o determinismo biológico que predomina nos discursos médicos, de enfatizar a construção de identidades e normas de gênero e de considerar as articulações possíveis entre poder, gêneros e linguagem. Em outros termos, os testemunhos podem ser um modo de “conter a violência das normas que governam o gênero” (BUTLER, 2005, p. 43), no que diz respeito à crítica da concepção biológica do corpo que permanece dominante no quadro da medicina.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Aline Fernandes de Azevedo Bocchi, Universidade de Franca

Mestra em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da USP e doutora em Linguística pelo Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp, com estágio de pós-doutoramento pela Universidade de São Paulo (apoio Fapesp) e Université Paris 13 (Bolsa Capes no exterior). Docente no Mestrado em Linguística da Universidade de Franca.

Referências

AMOSSY, R. Images de soi dans le discours. La construction de l’ethos. Lausanne-Paris: Delachaux et Niestlé, 1999.

BUTLER, J. Trouble dans le genre. Pour un féminisme de la subversion. Trad. de l’américain par C. Kraus. Paris : Éd. La Découverte, 2005.

BUTLER, J. Humain, inhumain. Le travail critique des normes. Entretiens. Paris: éditions Amsterdam, 2005.

CHETCUTI, N. & GRECO, L. (orgs.), La face cachée du genre: Langage et pouvoir des normes. Paris: Presse Sorbonne nouvelle, 2012.

GRECO, L. Mise en scène d’une transition scientifique et identitaire : expérience narrative, réflexivité et catégorisation. Semen - Revue de sémiolinguistique des textes et discours, 37, 2014.

GUILLAUMIN, C. (1978) Sexe, race et pratique du pouvoir. Paris: Côté-femmes, 1992.

HENRY, P. Le mauvais outil. Langue, Sujet et Discours. Paris: Klincksieck, 1977.

HOOKS, B. Yearnings: Race, Gender and Cultural Politics. Boston: South end press, 1990.

WITTIG, M. The category of sex. In: WITTIG, M. The straight mind and other essays. Boston: Beacon Press books, 1992.

MARIGNIER, N. Je suis une femme, blanche, valide, athée… In: Corps et mots [carnet de recherche], 2014. Disponível em: <http://reflexivites.hypotheses.org/5967>.Acesso em 29.01.2015.

ORLANDI. E. As formas do silêncio no movimento dos sentidos. Campinas, Editora da Unicamp, 2007.

PAVEAU, M.-A. Présentation. Le désir épistémologique. Semen - Revue de sémiolinguistique des textes et discours, 29, p. 7-14, Avril, 2010.

PAVEAU, M.-A. Les Prédiscours. Sens, mémoire, cognition. Paris: Presses Sorbonne Nouvelle, 2006.

PÊCHEUX, M. Ouverture du colloque. In: CONEIN, B.; COURTINE, J.-J. ; GADET, F. ; MARANDIN, J.-M. ; PECHEUX, M. (orgs.). Colloque Matérialités Discursives. Lille: Presses Universitaires de Lille, 1981.

PAVEAU, M.-A. Les Vérités de La Palice. Linguistique, sémantique, philosophie. Paris: Maspero, 1975.

PÊCHEUX ; M. ; HAROCHE, C.; HENRY, P. La sémantique et la coupure saussurienne. Langages, Paris, v 24, p. 133-153, 1971.

ZOPPI-FONTANA, M. Lugares de enunciação e discurso. In: II Congresso Internacional da ABRALIN, Fortaleza, Universidade Federal do Ceará, 2001. In: Boletim da Associação Brasileira de Linguística. v 1, Fortaleza: ABRALIN/UFC, 2003. p. 199-201.

Publicado

11-12-2018

Como Citar

BOCCHI, A. F. de A. Testemunhos de violência em consultas ginecológicas: sexualidade, silêncio, margem. Travessias, Cascavel, v. 12, n. 3, p. e21244, 2018. Disponível em: https://saber.unioeste.br/index.php/travessias/article/view/21244. Acesso em: 28 mar. 2024.

Edição

Seção

[DT] GÊNERO: REVISITANDO TEORIAS, MOVIMENTANDO ANÁLISES