“O único caminho que conheço é o de volta”
etnocartografar com os muitos mundos da infância
DOI:
https://doi.org/10.48075/rt.v19i1.34936Palavras-chave:
infância, cinema, Irã, etnocartografiaResumo
Este artigo se produz na composição metodológica de uma etnocartografia de tela com o filme “Onde fica a casa do meu amigo?” (1987), em que se tensiona o entendimento sobre infâncias iranianas no cinema de Abbas Kiarostami. Com a etnocartografia de tela, o filme é um território intensivo potencializado em narrativas que trazem a infância como protagonista: são imagens que tensionam os modos mais enrijecidos de se conceber o campo de pesquisa. Com a abertura atencional, saberes sobre as infâncias do sul global são interpeladas pelas questões identitárias, a invenção de valores tradicionais, a educabilidade dos corpos infantes, e a inauguração da potência dos encontros intergeracionais. Em face a conclusões, apresenta-se uma aposta ético-estético-política em pequenas desobediências infantis, esgarçadas num fio de voz do emocionar-se, na duração da vida que não se faz na sua longitude, mas em uma cartografia em zigue-zague, em caminhos e (des)caminhos, tateando mais perguntas que respostas à infância.
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