“O único caminho que conheço é o de volta”

etnocartografar com os muitos mundos da infância

Autores

  • Sara Reis Teixeira Universidade Federal de Sergipe - UFS
  • Marcos Ribeiro de Melo Universidade Federal de Sergipe - UFS https://orcid.org/0000-0003-3289-2528

DOI:

https://doi.org/10.48075/rt.v19i1.34936

Palavras-chave:

infância, cinema, Irã, etnocartografia

Resumo

Este artigo se produz na composição metodológica de uma etnocartografia de tela com o filme “Onde fica a casa do meu amigo?” (1987), em que se tensiona o entendimento sobre infâncias iranianas no cinema de Abbas Kiarostami. Com a etnocartografia de tela, o filme é um território intensivo potencializado em narrativas que trazem a infância como protagonista: são imagens que tensionam os modos mais enrijecidos de se conceber o campo de pesquisa. Com a abertura atencional, saberes sobre as infâncias do sul global são interpeladas pelas questões identitárias, a invenção de valores tradicionais, a educabilidade dos corpos infantes, e a inauguração da potência dos encontros intergeracionais. Em face a conclusões, apresenta-se uma aposta ético-estético-política em pequenas desobediências infantis, esgarçadas num fio de voz do emocionar-se, na duração da vida que não se faz na sua longitude, mas em uma cartografia em zigue-zague, em caminhos e (des)caminhos, tateando mais perguntas que respostas à infância.

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Biografia do Autor

Sara Reis Teixeira, Universidade Federal de Sergipe - UFS

Graduada em Psicologia (Bacharelado) pela Universidade Federal de Sergipe (UFS). Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Sergipe (iniciado em 2024). Servidora pública no Sistema Único de Assistência Social, do Munícipio de São Cristóvão/SE. Durante a graduação, fui bolsista de pesquisa e extensão, com as temáticas de atualização do pensamento de Foucault (no Coletivo Foucault Vivo); cinema e infâncias (no Grupo Balbucios: gaguejar uma infância); e por fim, com articulações entre a universidade e o movimento social de mulheres marisqueiras de Sergipe, no Narratório de Mulheres em Movimento. 

Marcos Ribeiro de Melo, Universidade Federal de Sergipe - UFS

Professor Associado do Departamento de Psicologia (DPS) e professor permanente do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Cinema (PPGCINE) da Universidade Federal de Sergipe. Psicólogo (UFS), mestre em Educação (PPGED/UFS) e doutor em Sociologia (PPGS/UFS). Pós-doutorado no Programa de Pós-Graduação em Psicologia do Desenvolvimento e Escolar na Universidade de Brasília (PPGPDE/UnB). Interessado em estudos e pesquisas que dialoguem com as seguintes temáticas: infâncias, culturas infantis, cinema e educação. Membro do GT Psicologia, Estética e Arte da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia - ANPEPP

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Publicado

30-04-2025

Como Citar

TEIXEIRA, S. R.; MELO, M. R. de. “O único caminho que conheço é o de volta”: etnocartografar com os muitos mundos da infância . Travessias, Cascavel, v. 19, n. 1, p. e34936, 2025. DOI: 10.48075/rt.v19i1.34936. Disponível em: https://saber.unioeste.br/index.php/travessias/article/view/34936. Acesso em: 24 maio. 2025.

Edição

Seção

[DT] "CRÍTICAS MODERNAS E CONTEMPORÂNEAS"