EXERCÍCIOS PARA MATAR UM GATO

Autores

  • Wagner Vonder Belinato

Resumo

Matei teu gato.

Armei sutis tramas para transitar tranquilo sobre o teu corpo.

Mas foi só muito depois que matei teu gato, colocando veneno na água que ele bebia e que você, cuidadoso, filtrava e trocava duas vezes ao dia, sempre uma água limpa, fresca.

Antes disso, tratei de cortar, com uma tesoura bem afiada, tuas asas. Primeiro as pontas. Depois, duvidando que ainda conseguirias voar, centímetro a centímetro, derrubei ao chão a asa esquerda. O sangue pintando de rubro minhas mãos, ainda tive tempo de vacilar. Mas ainda assim repeti a meticulosa ação para que, tolhido das asas, não pudesses voar. Certifiquei-me de que não tens nada de réptil, nem Dragão de Komodo, nem Salamandra nem mesmo uma sutil lagartixa, capaz de deixar um pedaço de si para escapar. Queria-te amarrado. As asas não cresceriam mais. Por isso é que fui pintando de vermelho nossas mãos, nossos corpos, nossa cama por inteiro.

É porque me dava inveja de ouvir o pires do gato batendo nos azulejos, o bicho roçando na tua perna, tomando todos os espaços do apartamento é que primeiro proibi-o de entrar nos quartos. Nada que tivesse teu cheiro seria por ele tocado. Depois, não me contendo, o matei. 

 

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Publicado

04-11-2011

Como Citar

BELINATO, W. V. EXERCÍCIOS PARA MATAR UM GATO. Travessias, Cascavel, v. 5, n. 2, p. e5221, 2011. Disponível em: https://saber.unioeste.br/index.php/travessias/article/view/5221. Acesso em: 29 mar. 2024.

Edição

Seção

LITERÁRIA