Quem fala quando Trump diz “nós”?
Estratégias retóricas, ethos e a dilatação do eu
DOI:
https://doi.org/10.48075/rt.v19i1.35206Palavras-chave:
Retórica política, Ethos discursivo, Primeira Pessoa do DiscursoResumo
Este artigo investiga as estratégias retóricas de construção de ethos por meio da Primeira Pessoa do Discurso (PPD) no discurso de posse presidencial de Donald Trump, proferido em 20 de janeiro de 2025. O objetivo é analisar como a PPD é mobilizada em marcas de construção de ethos do orador. A pesquisa ancora-se teoricamente nos fundamentos da Retórica clássica e da Nova Retórica, assim como em referenciais da Linguística Enunciativa e da Pragmática discursiva. Metodologicamente, adota-se uma abordagem qualitativo-quantitativa, composta por tabulação de ocorrências da PPD no corpus e posterior análise interpretativa dos recortes representativos, classificados em sete marcas de construção de ethos, conforme modelo teórico proposto por Bini (2023) e ampliado neste estudo com a identificação do Plural de majestade. Os resultados revelam que o ethos discursivo de Trump ancora-se em valores nacionalistas e expande-se por meio de estratégias linguísticas que reforçam autoridade, coletividade e excepcionalidade, com destaque para três marcas predominantes: o Singular de exclusividade, o Plural de majestade e o Plural de indeterminação circunscrita de inclusão. A análise contribui para a compreensão das formas como a PPD pode ser mobilizada em contextos políticos, na modalidade oral dialogada, para construir uma imagem de liderança carismática, amplamente identificada com o nacionalismo, oferecendo subsídios para futuras investigações sobre ethos político.
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