Entre vozes, ruídos e fragmentos

a direção escolar como experiência tensionada no cotidiano

Resumo

Este artigo investiga o cotidiano da gestão escolar por meio da análise de uma crônica autobiográfica escrita por um diretor de escola pública municipal do interior paulista. Produzida no contexto de uma formação continuada, a narrativa revela tensões, fragmentações e vozes que atravessam a prática gestora. A abordagem qualitativa e autobiográfica adota a reflexão sobre a própria prática como eixo formativo, valorizando o cotidiano escolar como objeto legítimo de investigação e a implicação subjetiva como constitutiva da identidade profissional. A análise evidencia a convivência de múltiplas racionalidades (técnica, afetiva e ética) manifestas em demandas simultâneas, conflitos interpessoais, ruídos institucionais e urgências cotidianas. A gestão escolar aparece como prática tensionada entre o tempo cronológico e o tempo vivido, o planejamento e o improviso. A escuta das vozes do cotidiano (expressas e silenciadas) revela que a autoridade não se sustenta apenas em normas e funções, mas também na sensibilidade aos afetos e gestos mínimos que compõem a vida escolar. A escrita de si configura-se como gesto ético-político, capaz de desvelar sentidos ocultos da gestão e reinscrever o cotidiano como lugar de produção de saberes. O artigo propõe, assim, uma leitura da direção escolar como prática situada, permeada por ruídos, deslocamentos e reinvenções, reafirmando a experiência como base para uma gestão mais sensível, crítica e implicada com o outro.