‘Aqui compra se gallinhas e ms alguma cousa’: um estudo sobre o fenômeno variável da concordância no contexto da passiva sintética ou pronominal, em cartas manuscritas do século XIX
DOI:
https://doi.org/10.48075/rt.v15i1.25666Palavras-chave:
Variação, Concordância Verbal, Reflexivo SE, Cartas manuscritas.Resumo
Nos estudos que temos desenvolvido sobre os usos do reflexivo SE, ou concluímos sobre a tendência ao seu apagamento, ou refletimos sobre a sua trajetória no exercício das diversas funções sintático-semânticas que tem assumido. Neste artigo, em particular, trazemos o ‘se’, sob uma abordagem variacionista (LABOV, 1972), não só para descrever o seu comportamento como recurso da indeterminação, em cartas manuscritas do século XIX, mas também para tratar de sua luta com o ‘se apassivador’. Trata-se de uma pesquisa que estuda a relação entre a diminuição da frequência da concordância em estruturas com se e a interpretação desse reflexivo, ou como indeterminador, ou como apassivador (GALVES, 1996, p. 392). O corpus de nossa pesquisa se constitui de 44 cartas escritas à mão, que datam de 1879 a 1889, representando, assim, um decênio de registros, em português, no Amazonas dos tempos áureos da borracha. Nossos resultados, ainda que parciais, corroboram o percurso apontado por Bechara (2004, p. 178): da passiva à indeterminação – não (mais) ‘compram-se galinhas’, mas ‘compra-se galinhas’, como ilustrado no título deste artigo; indicando que, nesse contexto sintático, as ações expressas pelos verbos são assumidas a partir de seus agentes e não de seus pacientes (VILELA; KOCH, 2001, p. 181).
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