Circulação internacional e pluridisciplinar de ideias: Pierre Bourdieu, a educação e a literatura
DOI:
https://doi.org/10.48075/educare.v18i47.30136Palavras-chave:
Pierre Bourdieu; Campo Educacional; Campo Artístico e Literário.Resumo
A questão central aqui priorizada propõe um diálogo entre o pensamento de Pierre Bourdieu (1930-2002), a educação e a literatura. Parte-se do entendimento de que se trata de um diálogo que pode ajudar a compreender nosso sistema de ensino, considerado como um dos lugares em que se produzem e se reproduzem sistemas de pensamento, de ação, de apreciação, de julgamento. O desafio primeiro é pensar a contribuição deste sociólogo para além da crítica reprodutivista e exercitar a reflexividade crítica por ele proposta, recorrendo à relação entre os campos educacional, artístico e literário. Esse exercício permite perceber que a eficácia da ordem simbólica não se exerce pela força física, mas por meio do sentido atribuído ao conhecimento, aos diferentes saberes escolares e profissionais, à relação que se estabelece com a produção artística de um povo, o que coloca a escola e a universidade numa posição extremamente estratégica na difusão do capital cultural, podendo atuar visando à conservação ou à transformação social. Para examinar a relação entre o pensamento de Pierre Bourdieu, a educação e a literatura, toma-se como referência dois conceitos: “discurso performativo” e “discurso herético”, visando fundamentar o estudo de três obras de escritores brasileiros, situados em tempos e contextos históricos distintos e relativamente distantes: Bernardo Guimarães (1825-1884), Jorge Amado (1912-2001) e Luciano Mendes. Interessados em dimensões não necessariamente idênticas, suas obras permitem perceber continuidades de costumes, de práticas políticas, institucionais e administrativas e apreender dinâmicas dos grupos sociais dominantes voltadas à sua reprodução. Conclui-se que a nossa literatura pode ser apreendida como um verdadeiro laboratório de investigação pluridisciplinar, pois permite ampliar nosso capital cultural e provocar revoluções simbólicas, tão necessárias num momento em que se assiste ao recrudescimento e à persistência de questões sociais, culturais, morais, doutrinárias, que marcaram os séculos anteriores.
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