Respeitar a “natureza” da criança versus a ausência de natureza e o estabelecer de uma segunda “natureza”
Palavras-chave:
Educação Escolar; Infância; Pedagogia da Infância.Resumo
O escrito tematiza a Pedagogia da Infância, perspectiva pedagógica que assume a premissa de que os processos pedagógicos de aprendizagem devem respeitar a natureza da criança e as suas manifestações espontâneas (sem interditos). Num primeiro momento, com base em revisão bibliográfica, apresentam-se os elementos basilares da Pedagogia da Infância, para, num segundo momento, como contraponto, tematizar-se a especificidade da condição humana, condição está que é marcada pela ausência de natureza e a necessidade de se estabelecer o que poderíamos denominar de uma segunda natureza. Pois, diferentemente dos outros animais, que já têm a sua existência garantida pela natureza e só necessitam se adaptar a ela, os humanos precisam adaptar a natureza a si, e constituem-se humanos pelo fato de produzirem continuamente a própria existência para além da natureza (segunda natureza). Ademais, trata-se de demarcar, a partir de revisão bibliográfica, a própria pedagogia, que, por conseguinte, sempre se constitui como um ato intencional, no conhecimento elaborado e não espontâneo; no legado produzido histórica e coletivamente na intersubjetividade humana.
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