O potencial preventivo de uma mudança de visão epistemológica pós-humanista em relação ao crime de tráfico de animais silvestres no Paraná
Palavras-chave:
Tráfico de Animais, Natucultura, Pós-Humanismo, BrazilResumo
Este artigo utiliza as interfaces do Desenvolvimento Comunitário, História Ambiental, História Animal, Direito e Ciências Policiais, para discutir o crime de tráfico de animais silvestres na Mata Atlântica do Paraná, com propósito de compreender as razões da existência do fenômeno. Além disso pretende acompanhar e refletir sobre a estruturação de uma visão epistemológica emergente (pós-humanista), que suplanta e requalifica as relações entre animais, (re)incluindo os animais humanos no reino animal, com base na noção de comunidade ampliada, multiespécie e sociobiodiversa. Nesse contexto, objetiva-se consolidar um posicionamento que rompa com a dicotomia rígida/oposição binária entre os animais humanos e os outros animais, permitindo reflexões mais holísticas e relacionais. Essa perspectiva, alicerçada na interdependência, interconexão, coexistência e reciprocidade entre as espécies, tem o potencial de catalisar a prevenção ao crime em análise, sobretudo ao elevar a relevância dos animais outros que humanos mencionados neste estudo. Assim, as repercussões dos conhecimentos científicos, nas mais diversas áreas, incluindo a policial, poderão impulsionar transformações até nas atitudes antrópicas mais profundamente enraizadas, que se manifestam como culturas transgeracionais.
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