Psicanálise, Guerra Fria e Histórias em Quadrinhos
O caso da revista "Psychoanalysis" nos Estados Unidos dos anos 1950
Resumen
Este artigo promove um debate sobre a circulação da psicanálise em mídias culturais populares nos Estados Unidos em meados do século XX e sobre a maneira como este saber é capaz de influenciar e ser influenciado pelos meios culturais em que circula. De maneira mais específica, o artigo analisa uma revista em quadrinhos estadunidense intitulada Psychoanalysis, que foi publicada em quatro edições no ano de 1955 e apresentava a história de um psiquiatra que, como um detetive, desvendava os maiores mistérios inconscientes de seus pacientes. A revista surgiu num momento em que os holofotes nos Estados Unidos estavam direcionados para a dinâmica doméstica e certa ode aos valores familiares e ao amor romântico se tornou comum nos meios de comunicação de massa do país como parte de um esforço de enaltecer o estilo de vida estadunidense e reforçar ideais de consumo da sociedade capitalista. A análise demonstra como a revista Psychoanalysis se tornou um espaço no qual ideias psicanalíticas são usadas como ferramentas na construção de uma atmosfera de conformismo e docilidade nos Estados Unidos nos anos de 1950 que coadunavam com o contexto de Macartismo e Guerra Fria daquele período. O artigo nos ajuda a pensar também a apropriação da psicanálise para além das instituições oficiais de construção deste saber, de modo a ressaltar o papel de sujeitos relacionados às mais diversas esferas sociais e culturais, como aqueles ligados às artes, à política e outras.
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